domingo, 5 de junho de 2011

5 de Junho de 2011


Votei livre e conscientemente, por isso ganhei.

Não, não votei no partido vencedor, mas ganhei, porque a democracia ganha quando um cidadão tem a liberdade de fazer as suas opções de acordo com os seus próprios valores e o faz de forma livre, sem se sujeitar a pressões, nem a operações de marketing.

O meu voto foi útil, mas não foi um "voto útil". Foi útil porque valorizou a democracia, foi a expressão da minha voz.

Votei contra a Troika.

No entanto, é bom que se compreenda que o meu, o nosso papel de cidadãos não se esgota na participação eleitoral. Uma democracia é mais forte quando os cidadão não se resignam à democracia representativa, mas sim, quando assumem uma democracia autêntica e participativa: em casa, nos locais de trabalho, nas ruas...

Reconheço que é difícil esperar por uma efectiva participação dos cidadãos na democracia, quando, num momento particularmente grave, mais de 40% dos cidadãos rejeita cumprir o seu dever nesta democracia representativa.

É curioso como ninguém, ou quase ninguém, com responsabilidades políticas, fala das abstenções e do absurdo que é, um país de cerca de 10 milhões de habitantes ter inscritos nos cadernos eleitorais um pouco mais de 9,6 milhões de eleitores. Isto é, só existem cerca de 400 mil indivíduos com menos de 18 anos? Que autenticidade eleitoral têm as eleições quando os cadernos eleitorais são compostos por, pelo menos, 2 milhões de eleitores fantasma?

A frase mais lúcida que ouvi, depois de conhecidas as previsões dos resultados eleitorais foi a de um militante do CDS-PP, quando, na RTP 1, afirmou que mais importante que as cento e tal páginas do programa do PSD, são as trinta e cinco páginas do acordo assinado com a Troika.

Já ouço por aí buzinadelas de festejo. Estão a festejar o quê? O que há para festejar?

Quanto ao engenheiro Sócrates: ouvi um emérito fazedor de opinião afirmar que Sócrates fez um discurso com grande dignidade. Eu pergunto: onde está a dignidade de alguém que, igual a si mesmo, faz uma encenação de dignidade e de seguida demite-se das suas responsabilidades, deixando o partido e, mais grave, o país à deriva. Não foi caso inédito, já um seu antecessor recente fez o mesmo só que teve a esperteza de garantir o seu futuro, pois se abandonou o país num momento difícil, mas não tão grave como o actual, arranjou um lugar que lhe garantiu o futuro na União Europeia. Estou a falar, como é evidente, de Durão Barroso.

Onde está a dignidade de alguém que só "serve" o país quando está no poder, mas que não compreende que o papel de um democrata, em defesa das seus ideais, é tão importante quando está no poder como quando está na oposição. A dignidade de Sócrates é a mesma do menino mimado que quando está a perder o jogo, vai embora e diz que não joga mais. A dignidade de Sócrates é igual à dos ratos que são os primeiros a abandonar o navio quando ele está a afundar-se.

Uma palavra para os eleitores PS que ainda votaram no seu partido. Compreendo a sua fidelidade, mesmo que seja apenas clubística, mas porquê manifestar essa fidelidade a um político que foi o primeiro a abandoná-los?