quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

6 QUESTÕES SOBRE EDUCAÇÃO


A escola é o espelho da sociedade, mas não devia ser. A escola devia ser o motor capaz de mudar a sociedade, não uma simples peça da engrenagem.

Não acredito em maus professores, só porque os resultados escolares não são os desejados. Nenhum profissional da educação pretende o insucesso dos seus alunos, mas também nenhum deve promover um sucesso visível só porque sim.

É necessário que, em primeiro lugar, se dê as condições necessárias para que os docentes possam desenvolver as suas potencialidades com solidez. Não defendo que se deva estar à espera que todas as condições estejam criadas para depois as colocar em prática. Pensar desta forma contribui para um cruzar de braços que é pernicioso no que diz respeito ao sucesso escolar, da mesma forma que não passa de uma falácia cumprir integralmente um processo burocratizado e caduco, que não leva a lado nenhum e só serve para mascarar a realidade. Um e outro são as duas faces da mesma moeda, cujos resultados estão à vista. Para mudar o status quo é necessário ousar ser criativo para reverter a favor de um processo que todos pretendemos fiável, gratificante e com resultados efetivos, mesmo que os resultados não sejam imediatos, pois a ânsia dos resultados imediatos arrasta-nos para um poço sem fundo.

É um caminho cheio de obstáculos, algumas frustrações, mas que no fim trará os seus frutos, mesmo que se tenha de passar por um período de tempo em que os mesmos sejam manifestamente inferiores ao ideal, pois a frustração combate-se com a assimilação de medidas que, com os professores e não contra os professores, irão dar frutos palpáveis a médio prazo.

É preciso fazer uma travessia do deserto? Claro que sim, claro que é necessário ter coragem e ideias para fazer essa caminhada, mesmo com os meios que hoje estão ao alcance das escolas, desde que haja um interiorização deste processo por parte de todos nós.

A primeira questão é: O que fazer? Refletir ou agir?

Refletir sem agir é inconsequente e agir sem refletir é uma perda de tempo.

A reflexão é importante, pois só quando existe consciencialização do insucesso se pode compreender as suas causas e pensar em ações capazes de contrariar a tendência de maus resultados. Uma ação sem uma sólida reflexão arrasta inevitavelmente o problema para um beco sem saída, pois as medidas tomadas são avulsas e, portanto, o seu resultado depende do fator sorte.

Daqui se concluiu que uma sem a outra são insuficientes, por isso a uma reflexão deve seguir-se uma medida prática, que deve ser testada com rigor, a qual deverá ser reformulada se, e só se, ficar comprovado que não é a mais eficaz.

A segunda questão é: Tem a escola meios suficientes e capazes para colocar em prática medidas eficazes no combate ao insucesso escolar?

Na minha opinião tem os meios suficientes para abrir caminho numa fase de arranque, e alguns para a sua consolidação.

A terceira questão é: Porque não possui a escola todos os meios necessários?

Não os possui, porque a política educativa governamental privilegia o ensino privado em relação ao público e nega à escola pública as mesmas armas para obtenção do sucesso escolar com que beneficia a escola privada. Não se pretende com esta ideia adotar uma política de exclusão dos alunos, que não se enquadram no perfil do bom aluno ou do aluno sem dificuldades educativas. Neste caso as regras de admissão e exclusão devem ser iguais sem diferenciar a escola pública da privada, isto é, quanto a este problema é a escola pública que está no bom caminho, pois ao fazer essa distinção está a criar-se a ilusão de que as escolas privadas são melhores do que as públicas.

A quarta questão é: A escola e os professores devem cruzar os braços por lhes negarem todos os meios necessários para promover o sucesso escolar?

Claro que não, refugiar-se na falta de meios é desistir de exercer a sua profissão com rigor e dignidade, apesar de haver consciência de que não podemos usar todos os meios ao alcance da escola privada, existem alguns que podem ser implementados, não porque é lei e, portanto é uma obrigação, mas porque urge usá-los com critério e rigor, como forma de promover a motivação dos professores para a sua profissão, a qual tem sofrido um desgaste enorme nos últimos anos, por causa das políticas educativas que têm sido colocadas em prática e que promovem um caminho persecutório ao professor por parte da sociedade, o qual, muitas vezes, de forma consciente ou inconsciente, direta ou subliminar, é apoiado e colocado em prática pelas direções das escolas e também, por muitos docentes que agem por medo (alguns dos mais novos), ou por já não acreditarem numa profissão que os motivou (os mais velhos).

A quinta questão é: Quais são os caminhos da educação?

Os quatro pilares do sucesso educativo são as direções das escolas, os professores, os encarregados de educação e os alunos. Da estrutura enunciada podemos concluir que a harmonia entre os três primeiros pilares é fundamental para alicerçar e desenvolver o quarto pilar, o qual é a razão dos anteriores existirem no processo de ensino-aprendizagem.

Torna-se evidente que uma escola excessivamente burocratizada não tem sucesso, a não ser que os resultados finais sejam mascarados, mas, quanto a mim, mascarar os resultados é crime, por isso esta questão, a de mascarar os resultados, fica imediatamente descartada.

Sabe-se as funções de cada um dos pilares deste sistema e, por isso, é fundamental criar as condições para que todos os pilares funcionem devidamente. As direções devem criar as condições de trabalho e diálogo para que os atores que estão no terreno se sintam motivados e com autonomia suficiente para colocar na prática as medidas necessárias para promover o sucesso. Para isso é essencial que o processo ensino-aprendizagem se centre na sala de aula cujas paredes são: a língua e a comunicação; a ciência; a cultura; a arte. Sendo que estas paredes devem ser devidamente alicerçadas numa prática pedagógica adequada e diferenciada, não condicionada por medidas economicistas, as quais desvirtuam os fundamentos da educação, no sentido de criar condições para a aquisição dos meios fundamentais à autonomia e criticismo dos cidadãos em formação. Quero com isto dizer que a finalidade da educação não é formatar, no sentido de estandardizar, cidadãos, mas sim de criar os mecanismos e fornecer a informação necessária para que o cidadão em formação adquira a autonomia e conhecimentos necessários para, criticamente, escolher os seus caminhos, livres de preconceitos que condicionem o desenvolvimento humano.

A sexta questão é: Quais são os meios de que a escola pública dispõe para concretizar um efetivo sucesso dos alunos?

Em primeiro lugar as direções precisam de promover a motivação dos professores sem procurar resultados imediatos, isto é no final de apenas um ano letivo. Entende-se por motivação dos professores dar-lhes condições para que, na sala de aula, possam concretizar, com competência e qualidade o seu trabalho. Neste campo é necessário ser determinado e eficaz no que diz respeito à disciplina na sala de aula e na escola. Existem os mecanismos necessários para concretizar estas medidas, os quais estão no Regulamento Interno das Escolas, os quais podem ser alterados e melhorados autonomamente por cada escola.

Este entendimento envolve, como não podia deixar de ser, todos os pilares da educação e não apenas os docentes.

Centrar toda a atividade letiva fundamentalmente no conselho de turma e não nos departamentos e grupos disciplinares, os quais deviam refletir e agir de acordo com o que se passa nos conselhos de turma e não o contrário. Os departamentos e grupos disciplinares são importantes, mas para aglutinar experiências e as desenvolver, porque o verdadeiro motor do processo é o conselho de turma.

Todo o processo pode ser, deve ser, implementado na confiança que as direções das escolas depositam no seu corpo docente, numa atitude de diálogo franco e de busca de soluções, sem agitação de bandeiras de metas, muitas vezes fictícias, impondo aquilo que é uma simples orientação.

Para qualquer professor a meta de sucesso dos seus alunos é de 100%, por isso não é por estarem estabelecidas, ou institucionalizadas metas de sucesso, que ele vai acontecer. Nenhum professor trabalha de maneira e com empenho diferente, quer a meta de sucesso seja de 50 ou de 100%, mas todos, quando devidamente motivados, procuram aferir constantemente os itens em falha, numa tentativa de corrigir aquilo que ele pode corrigir.

Um professor não trabalha à peça ou com peças, mas sim com seres humanos (direção, encarregados de educação e alunos), os quais não controla, nem deve controlar, por isso a solução do sucesso passa, inevitavelmente pelo empenho de todos.

1 comentário:

Mário Monteiro disse...

Um comentário que me chegou por mail enviado por um amigo e, como faz todo o sentido, complementa este artigo, por isso resolvi publicá-lo aqui:

"Sublinho especificamente os dois últimos parágrafos (não deixando de concordar com todos os outros).
Era capaz de acrescentar uma analogia entre a gestão empresarial e a gestão escolar, encarada sob este ponto de vista: o órgão de gestão de uma empresa que exerça a sua função sem ideias e sem uma determinação constante, e que escamoteie resultados com engenharia de números ou de estatísticas, e que para isso arraste, envolva e cumplicie os seus colaboradores, assina uma certidão de óbito a curto-médio prazo; da mesma foram, salvaguardando as distâncias devidas entre uma estrutura com fins lucrativos e uma outra com fins educacionais, uma escola hipoteca a sua finalidade se, de uma forma obsessiva, procurar resolver os obstáculos a essa finalidade com a manipulação de resultados e com recurso ao envolvimento, leia-se pressão, dos professores (os agentes a quem é mais fácil e directo assacar responsabilidades), corresponsabilizando-os pelos insucessos ou, ainda mais caricato, pela falta de soluções para esse insucesso.
Aos professores é-lhes atribuído uma remuneração para administrarem um curso, uma disciplina, numa perspectiva de articulação com outras disciplinas do saber, num todo coerente a que se chama currículo. Sobre essa responsabilidade os professores devem estar prontos para dar contas. A uma direcção é-lhes atribuída uma remuneração para gerirem um estabelecimento de ensino e para garantirem as melhores condições e iniciativas para que a finalidade do ensino seja alcançada. Nesse sentido, é tão legítimo uma direcção pressionar os agentes para que os bons resultados surjam, como o contrário.
Mas, para terminar, digo-te o seguinte:
- Dou as minhas aulas da forma mais profissional, responsável e correcta que, até ao momento, a minha capacidade alcança. Chamem-me a um gabinete, confrontem-me com doutores, assistam-me às aulas, discutam os problemas comigo, apontem-me os erros... são sempre benvindos... mas com conhecimento de causa. De boca e com chavões NÃO! Já não tenho paciência para isso! Sento-me no sofá, bebo uns whiskys e, num ápice, teço as maiores e melhores teorias sobre a prática do ensino-aprendizagem... mas não passarão disso - teorias. Até lá, vou dando as aulas que mais nenhum professor consegue dar... porque são as aulas que eu dou.
grande abraço,"