domingo, 20 de setembro de 2009

O Olho d'Além


- Irmão olha através deste “Vidro” e diz-me o que vês!

- Vejo as chamas do Sol e os mares da Lua. Vejo estrelas e cometas. Vejo planetas e galáxias.

- E tu irmão, o que vês?

- Vejo um túnel escuro como breu e, no fundo, numa luz clara, a minha face reflectida.

- Faltas tu, meu irmão, dizer o que vês?

- Eu vejo as profundezas do mar oceano e da terra. Vejo vida numa minúscula gota de água!

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Cada um de nós vê aquilo que quer e pode ver. O Tempo dita quando e como podemos ver o que sempre esteve debaixo dos nossos olhos, mas somente se abdicarmos da nossa autenticidade.

Ultrapassar o Tempo ou julgá-lo não passa de um anacronismo histórico, de uma ilusão.

A evolução do Homem não é uma evolução linear, muito menos global. É uma evolução com avanços e recuos, com saltos e mutações genéticas. É uma evolução a várias velocidades. Muitas vezes estamos a recuar com a ilusão que estamos a avançar. É, muitas vezes, uma evolução de falsas necessidades.

Os Povos não evoluem todos da mesma maneira, nem ao mesmo ritmo e, muito menos, a Humanidade, porque os povos são compostos pela individualidade e a “maçã-de-adão”, ou melhor, a noção de propriedade individual e os medos, transformou-nos em seres egoístas.

O pensamento grego é a base da dita Civilização Ocidental. Mas a sociedade ocidental podia ter evoluído de outra forma se, por artes de magia ou outro qualquer anacronismo, os Gregos tivessem feito outra opção, porque a base do conhecimento já estava nas suas mãos.

Se os Gregos tivessem rejeitado a escravatura, os objectos falantes, isto é, a mão-de-obra escravizada e tivessem sentido a necessidade de construir máquinas que lhes fizessem as tarefas do dia-a-dia, que lhes satisfizessem as suas necessidades básicas ou, no mínimo, lhes aligeirassem o cumprimento de tarefas comezinhas, num regime de igualdade, de modo a que pudessem continuar a dedicar-se ao pensamento, a Humanidade seria hoje muito diferente do que é.

O Tempo, sempre o Tempo. O Tempo não pára, subjuga-nos. O Tempo não nos cura, destrói-nos, porque aquilo que nós pensamos ou idealizamos hoje, sim nós, os marginais do Tempo, só poderá ser realizável depois de entrarmos num novo Tempo.

Até hoje, nesta sociedade que muitos julgam globalizada, vivemos a vários tempos.

A lógica da Civilização actual minada pela globalização política e económica, cria-nos a ilusão de liberdade e bem-estar, mas rouba-nos o sonho. Hoje vive-se, dia-a-dia, aquilo que nós, cabeças pensantes de ilusões efémeras, acreditamos que seria um desfasamento evolutivo: a nova escravatura e a exploração do trabalho, com novos meios encapotados e refinados de perpetuar a exploração do homem pelo homem.

Não podemos estar preocupados com o que a Humanidade poderia ter sido, mas sim com o que é, porque o que poderia ter sido não existe.

Não sei se agora é ou não o tempo de fazer, mas sei que nunca será o tempo de impor ou rejeitar, será sempre o tempo de busca da harmonia. Nunca será tempo de preconceitos e julgamentos. É tempo de arriscar, é tempo de sonhar!

Ver sempre mais além, este sim, é o nosso verdadeiro desafio.

Não é a esperança que é a última a morrer, mas sim o sonho. É o sonho que nos levará cada vez mais longe. A felicidade é possível, a felicidade constrói-se no dia-a-dia, mas o sonho é o único caminho.

segunda-feira, 14 de setembro de 2009

O Olho de Alá



Uma Produção Panmixia Associação Cultural em parceria com a Camaleão Associação Cultural

A partir do conto de Rudyard Kipling, ‘The eye of Allah’, a peça fala da viagem de John de Burgos, monge inglês, pintor de iluminuras, que vai até ao sul da Península Ibérica, em busca de ervas medicinais para o Convento e de tintas para a sua arte. No regresso do mundo árabe, traz com ele um pequeno instrumento a que chamavam Olho de Alá, o primeiro microscópio. Esta pequena maravilha permite ver seres extraordinários até numa simples gota de água, inspirando John de Burgos a criar fantásticos demónios para as ilustrações do seu Evangelho de S. Lucas. Quando Roger Bacon visita o Convento, fascinado perante tal avanço da Ciência, saúda o progresso: daqui a duzentos, trezentos anos todos passarão a usar este instrumento. Porém, o Abade do Convento tem sérias dúvidas acerca do herético e perigoso Olho de Alá. Afinal, será prudente antecipar assim o futuro?

Ficha Artística e técnica

Texto - José Carretas, José Geraldo
Encenação - José Carretas
Música Original - Telmo Marques
Concepção Plástica - José Carretas, Margarida Wellenkamp e Nuno Lucena

Elenco – Helena Faria, João Melo, José Geraldo, Linda Rodrigues, Pedro Estorninho, Rui Damasceno, Rui Queirós de Matos

Datas: De 17 de Setembro a 17 de Outubro de 2009, todos os dias, excepto segunda-feira, às 22h

Local: Garagem da Panmixia - Cace Cultural do Porto

Rua do Freixo, nº1070, Porto

Companhia Subsidiada pelo Ministério da Cultura




terça-feira, 8 de setembro de 2009

GRIPE A e/ou GRIPE P

Anda por aí meio mundo preocupado com a Gripe A, mas toda a gente parece esquecer uma gripe que está aí mesmo ao virar da esquina e que atingirá o seu ponto mais alto entre meados de Setembro e meados de Outubro: a Gripe P.

Está certo que se elaborem planos de contingência para a Gripe A. Está certo que quando alguém liga para a linha de emergência (808 24 24 24), aparece uma ambulância com um médico vestido com um fato "espacial", o suspeito é levado para o hospital, de seguida fazem-lhe uns exames e recolhem sangue para análise, mas como os resultados só serão conhecidos, na melhor das hipóteses, no dia seguinte, o suspeito é mandado para casa de táxi...

É para rir, previne-se a montante, mas tolera-se o contágio a jusante.

Enquanto se elaboram planos de contingência para prevenir a luta contra a propagação da Gripe A, a qual só deverá atacar em massa a partir de Novembro, nada se faz prevenir o contágio da Gripe P, a qual está bem mais próxima e provavelmente será de longa duração, porque andaremos contagiados pelo menos nos próximos 4 anos.

Mas afinal o que é a Gripe P?

A Gripe P é a gripe da politiquice.

Mas perguntam vocês: e quais são os principais sintomas?

Náuseas, falta de memória, tendência para acreditar no Pai Natal e no salvador que chegará numa manhã de nevoeiro, acreditar que cada um de nós está a escolher a construção do nosso futura, fé inabalável na casta política, tendência para aceitar que os outros decidam por nós, reconhecimento da nossa incapacidade para alterar o rumo dos acontecimento, aumento do preconceito, tendência para ouvir e aceitar o que nos transmitem sem espírito crítico, acreditar na bondade da casta política, imaginar que enquanto dormimos há um punhado de gente sabedora que está a tratar dos nossos problemas e dos da nossa sociedade, etc.

Quais as consequências mais graves?

Definhamento de longa duração, depressão após um período de euforia que não dura mais de 5/6 meses, esquecimento, reconhecimento da nossa incapacidade de alterar seja o que for e, após um período de 4 anos voltar a acreditar em tudo o que foi dito sobre os sintomas.

Antes de pensar no caos que poderá provocar a Gripe A, o qual será controlável, pensem em proteger-se da Gripe P, porque esta, ao contrário da outra, não tem prazo marcado.

Proteger-te contra a Gripe P está exclusivamente nas tuas mãos.