quinta-feira, 14 de julho de 2011

Resultados dos Exames Nacionais (9º Ano)

Foram hoje tornados públicos os resultados dos Exames Nacionais de Língua Portuguesa e Matemática do 9º Ano de Escolaridade.

Os resultados são assustadores: Língua Portuguesa 44% de níveis inferiores a 3; Matemática 58% de níveis inferiores a 3, sendo que 18% obtiveram nível 1, isto é, não conseguiram ultrapassar os 19% numa escala de 0 a 100%.

Analisei ambas as provas e, na minha opinião, nenhum deles apresenta um grau de dificuldade elevado. Se na Língua Portuguesa era essencial a concentração dos alunos e a leitura integral dos textos e perguntas, pois uma percentagem elevada das questões eram de âmbito interpretativo, na matemática o acento tónico era a interpretação e o raciocínio, não exigindo cálculos muito complexos.

Nos últimos anos temos vindo a observar que a situação tem piorado, mas este ano os resultados são assustadores. Os alunos que agora terminam o 9º ano, estavam no 7º ano quando foi nomeada para Ministra da Educação Maria de Lurdes Rodrigues. Costumo afirmar, em tom irónico, que estes alunos fazem parte da geração marilú. A verdade é que a situação se já não era boa antes da famigerada ministra, piorou, e de que maneira, com as reformas que a ministra de má memória tentou implementar na política educativa.

Como é possível alcançar sucesso escolar, quando as reformas introduzidas não passam da diabolização do professor, estigmatizando-o e responsabilizando-o integralmente pelo o insucesso dos seus alunos. Criou o caos nas escolas bem de acordo com a doutrina do choque tão cara aos neo-liberais. Fez cavalo de batalha, até muito tarde, do princípio de que o sucesso escolar dos alunos seria factor determinante na avaliação do desempenho docente (de forma acrítica e redutora).

A ministra que a substituiu, a ministra pseudónimo, continuou, nas suas linhas gerais a aventura da política educativa anterior, acrescentando-lhe confusão e acentuando o carácter arbitrário e subjectivo do processo de avaliação docente.

Quanto ao actual ministro, Nuno Crato, apesar de se encontrar ainda em estado de graça, não se pode esperar grandes alterações. É, tal como os anteriores, um neo-liberal, portanto adepto da doutrina do choque. A ideia de fazer implodir o ministério não passou de um fait diver, numa altura em que era politicamente correcto dizer mal do Ministério da Educação, mesmo que duma forma acrítica. Neste sentido insere-se também a tentativa do actual partido do Governo, o PSD, fazer uma tentativa de, em final de legislatura, pôr fim ao actual modelo de processo de avaliação do desempenho. Não que esta atitude fosse incorrecta, mas porque não rejeitou este modelo na altura própria, nem faz qualquer tentativa de, na actual legislatura, reverter este processo absurdo. Os professores não recusam a avaliação, mas sim a forma como está estruturado o actual modelo de avaliação. Só se deixa enganar quem quer.

O que se pode esperar de uma escola onde os professores se desdobram em actividades de enriquecimento curricular, muitas vezes como forma de disfarçar ou mascarar o insucesso, muitas vezes mais movidos pelo medo, sobretudo os professores contratados, em vez de investir, a escola e as políticas educativas, no que se passa dentro da sala de aula; duma escola em que se responsabiliza o professor, quase integralmente, pelo sucesso/insucesso dos alunos e se desresponsabilizam os encarregados de educação e os próprios alunos; duma política educativa em que se dão todas as condições à escola privada e se deixa degradar a escola pública, com a falácia da livre escolha; duma escola em que o principal objectivo é o sucesso dos alunos sem exigir rigor nas aprendizagens e responsabilização de pais, encarregados de educação e dos próprios alunos. Sim, o que se pode esperar desta escola?

O que dizer de uma escola que aposta na penalização dos professores, em vez de apostar na sua formação?

Quando o ministério pretende resultados deve lembrar-se que também é agente da transformação e para isso deve proporcionar os meios e as condições para a melhoria do desempenho docente e, consequentemente do sucesso escolar.

Usa e abusa o ministério de dados estatísticos, não com o objectivo de ajudar os profissionais da educação a encontrar alternativas, mas sim com o objectivo de os acusar de todos os males do processo de ensino/aprendizagem. As estatísticas têm diversas leituras e são um meio auxiliar para encontrar soluções, não um fim em si mesmo, o qual tem servido ao Ministério da Educação para intoxicar e manipular a opinião pública.

Na escola actual vemos exemplificada a doutrina do choque dos neo-liberais, de Milton Friedman e da Escola de Chicago, aplicados à educação.

9 comentários:

Guilherme Monteiro disse...

Pena que a avaliação do blogspot fique-se, tal como a avaliação dos professores (que para terem mais do que isso, têm que o solicitar) pelo bom, pois este post está para lá de bom!

target="blank" disse...

Só vejo uma solução para sairmos deste imbróglio: da Pré até ao 12º: Matemática de manhã e Português à tarde, pega às 7.30 e despega às 18.30 (com 60 minutos para almoçar). O resto das disciplinas e afins não passam de excrescências do currículo, e como tal devem ter carácter facultativo, obviamente depois do horário escolar e a pagar por fora pelos pais. Dificuldades de aprendizagem? mais aulas de recuperação (de Português e Matemática, claro) em horário pós laboral, fins de semana e férias: só assim teremos a garantia que todos os portugueses no final da escolaridade obrigatória em 2030 poderão dominar a língua mãe (para assim poderem mais facilmente emigrar para os PALOP), e a aritmética básica (para quando regressarem aqui ao cantinho poderem gerir um Pão Quente que também serve prato do dia). Há mais de 15 anos que se tem reforçado, cada vez mais, o ensino da Língua Materna e das Matemáticas com sobrecarga horária, planos, projectos… e está visto que este “mais do mesmo” ainda não é suficiente: portanto mais carga horária, testes, exames e tachos para as sumidades das Ciências de Educação cá da terra encherem ainda mais o bandulho. O futuro dos cachopos? Que se lixe, até já consta que o mundo vai acabar em Dezembro do ano que vem!!!...

Mário Monteiro disse...

obrigado ao Guilherme e ao target="blank" (abrir noutra página) pelos comentários

Mário Monteiro disse...

target, gostei mt do teu comentário, é corrosivo e acertivo, pena ficares no anonimato, abraço

target="blank" disse...

agora já dá para ver quem sou. abraço para ti também, e obrigado pelo elogio! parabéns também pelo teu texto, obviamente

Mário Monteiro disse...

grande Morfeu, não fiz o óbvio (abrir noutra janela), parabéns

target="blank" disse...

nem de propósito: nós ontem a falar disto e sai hoje de manhã a organização curricular para 2011/12; no 2º ciclo: mais português e mais matemática (acaba área de projecto); no 3º ciclo: mais português e mais matemática, acaba área de projecto e estudo acompanhado! abraço "morfeu"

Graciete Rietsch disse...

Muito bem ,Mário. Só hoje, desde há uns tempos(não muitos)e porque ando um bocado cansada, vim espreitar o teu blogue.
E, tal como diz o Guilherme, considero-o bem acoma de bom.
Parabéns pelos teus anos e pelo blog.

Um grande beijo.

Graciete Rietsch disse...

Bem se vê que ando cansada e distraída.Aquele "acoma" significa acima.

Mais um beijo.