Um dia prometeram-nos leite e mel.
O nosso país, e outros, em termos de desenvolvimento económico, viviam a anos-luz das três grandes potências da Europa: a Alemanha, a França e a Inglaterra. A Inglaterra, isolada na sua ilha, não deixou de estar atenta, mas não embarcou de imediato nesta proposta, tinha a Commonwealth.
Mas o crescimento económico não dura sempre, por isso aqueles países inventaram um modelo. Um modelo de desenvolvimento, de partilha e solidariedade, diziam.
Tornaram-no atrativo: olhem para nós, para o nosso desenvolvimento, para a nossa riqueza, nós queremos que vocês sejam como nós.
Criaram a CECA e depois a CEE, mais tarde a UE. Primeiro foi permitido que aderissem os parceiros mais próximos, aqueles que não exigiam investimento, mas que se mostraram igualmente "solidários" com esta ideia. Havia que alargar o grupo, dar-lhe homogeneidade, para assim convencer melhor os outros, aqueles que realmente interessavam. O trabalho é lento, mas profícuo.
Em cada um dos restantes países europeus, os ricos tinham os seus emissários, os seus bons alunos. Alguns desses emissários até percebiam perfeitamente o que estava para além da ponta do iceberg, mas sentiram-se seduzidos pela ideia. Era a forma de chegarem ao poder e, pelo menos no seu quintal, serem donos e senhores, controlarem as suas próprias marionetas, mesmo sabendo que não deixavam de ser marionetas de outros. A ideia seduziu-os.
Vieram as ajudas. Primeiros para os comissários políticos da Europa da fartura, os quais tiveram os meios necessários para criar nos outros a inevitabilidade da adesão à nova ordem económica, a tal que nos traria riqueza e desenvolvimento. A pouco e pouco, os povos europeus foram aderindo à ideia: Irlanda, Grécia, Portugal, Espanha, etc..
O dinheiro veio a rodos. Gastem, gastem, diziam, nós queremos que vocês fiquem rapidamente ao nosso nível, nós somos a Europa solidária, a Europa da fartura.
Os fundos chegaram. Construíram-se estradas, promoveram-se formações, aumentou-se o poder de compra dos neófitos, construíram-se algumas obras emblemáticas e megalómanas. Era um maná vindo do céu.
No entanto aqueles que até percebiam onde se queria chegar deixaram-se seduzir, era melhor, bem melhor, do que a maçã-de-adão.
Para que nada falhasse fechou-se os olhos a oportunistas, pois quem tinha poder económico enriquecia rápida e facilmente, ajudava a criar a ilusão que a riqueza afinal era fácil, bastava esticar a mão de pedinte para que ela ficasse cheia de moedas. É a síndrome do novo-rico: se o dinheiro afinal é fácil para quê lutar por ele, basta abrir a boca. Cada vez mais gente via nesta ideia peregrina a solução de todas as suas frustrações, todos os seus males.
Quem tem um pouco mais de dinheiro tem sempre mais poder sobre os que têm menos. Acham.
A partir de certa altura começaram a mandar dinheiro para destruirmos a nossa agricultura, as nossas pescas. Era preciso escoar os seus produtos, por isso passavam a fornecer os novos países. Era mais barato e os produtos tinham uma aparência de melhor qualidade. Tudo muito bem apresentado, tudo muito bem embalado, tudo muito bem uniformizado.
As marionetas sentiram-se seduzidas.
Se há muito dinheiro há que gastar. Este princípio era alimentado incessantemente pelos que puxavam os cordelinhos.
Com o tempo o mercado voltou a saturar-se, até porque a economia não pode crescer indefinidamente e, lá para oriente, surgiram novos rivais e novas hipóteses de mercado. Os outros continuaram a gastar, mas ninguém se preocupou, porque quanto mais gastavam mais ficavam a dever e, se não pagassem, ficariam de novo na miséria, enquanto os países ricos continuavam a enriquecer, porque passaram a ver novos e maiores mercados nas economias emergentes: China, Índia, Brasil, etc..
Está na hora das marionetas seduzidas acordarem do seu torpor e perceberem que têm de cortar os fios que os controlam, por mais dourados que sejam.
Está na hora de pensarmos em alternativas realmente sustentáveis e solidárias, está na hora de pensarmos numa economia de recursos.