Nas minhas aulas uso, com alguma frequência, o recurso à
metáfora e, para tal, utilizo a sala de aula, objetos vários e os próprios
alunos.
Interrogo-me muitas vezes de qual seria o resultado se, após
terminar a aula, pedisse aos meus alunos que me fizessem um breve resumo sobre
a matéria leccionada. Por minha culpa, não por culpa dos alunos, imagino que
esse resumo seria algo de estranho e absurdo.
Assim, no final de uma aula sobre a I Guerra Mundial, acho
que o resumo dos alunos seria algo deste género:
Bem professor, partindo do princípio que a Europa é a fila
do meio, aquela em que a Eugénia está à frente; a América a da esquerda,
dominada pela Amélia; a África a da direita, onde se destaca a Alfredina. A
França é a Francisca, a Inglaterra a Isabel, os EUA o Américo, a Rússia a Rute,
a Alemanha o Almeida, a Áustria-Hungria a Augusta e a Itália a Irene, então a
aula foi assim:
A Francisca, a Isabel e o Almeida, suspiravam por fazer da
Alfredina o seu quintal e então foram para lá e retalharam tudo quanto podiam,
no entanto outros também queriam um pouco dos terrenos da bela e sensual
Alfredina. Como ninguém se entendia, resolveram fazer uma conferência
internacional na pastelaria Berlim, ali para os lados do Almeida, onde todos se
reuniram, incluindo o Paulo (Portugal) e a Belmira (Bélgica), além de outros.
Aqui acordaram com que pedacinho de terra ia ficar cada um, não se importando
minimamente com o que aconteceria aos milhões de seres que viviam na Alfredina.
Durante anos andaram a sorrir uns para os outros, mas nas
costas fabricavam cada vez mais fisgas, setas, pistolas, barcos, etc. Na
Eugénia vivia-se um clima de ódio latente, cada dirigente queria ter mais força
do que o vizinho, queria mais fábricas e mais matérias-primas, assim como mais
gente para comprar o que faziam.
Um dia, em 1914, o barão Francisco Fernando, que tinha sido
prometido em casamento à Augusta, foi visitar o Sérgio (Sérvia), onde apanhou
com um balázio e foi desta para melhor, tendo o casamento sido anulado.
Triste e zangada a Augusta declarou guerra ao Sérgio, logo a
amiga e amante do Sérgio, a Rute, declarou guerra à Augusta.
Desataram todos à
trolha. Os amigos juntaram-se e declararam guerra aos amigos dos outros.
Iniciou-se a grande barafunda. Todos pensaram que seria uma questão de dias e
tudo ficaria resolvido rapidamente. A verdade é que a quantidade de fisgas,
pistolas, setas e outros utensílios de destruição era tão grande, de parte a
parte, que rapidamente se entrou num impasse, por outro lado os generais de
ambos os lados eram velhos e não tinham percebido que com o material bélico de
que dispunham, não poderiam continuar a combater como faziam no século passado
(século XIX).
O resultado foi que tiveram necessidade de construir largos
milhares de buracos ao longo das respectivas fronteiras e os soldados passaram a
viver e a combater nesses buracos. Durante três anos, os homens combateram como
ratos, enquanto os generais faziam experiências, tal como os cientistas fazem
com as cobaias nos laboratórios.
Nas trincheiras os soldados viviam aos milhares, nas
povoações próximas da frente de batalha as populações civis também. A I Guerra Mundial
foi a primeira em que o número de mortos civis foi superior à de soldados.
Em 1917 a Rute contraiu uma forte dor de barriga e teve e
abandonar a guerra para cuidar da sua própria saúde. No Atlântico, os cargueiros
que o Américo enviava para a Isabel e para a Francisca eram afundados pelos
submarinos do Almeida. Um dia um paquete que realizava uma viagem entre as
terras do Américo e da Eugénia foi afundado por um submarino do Almeida.
Indignado o presidente Américo declarou guerra ao Almeida. Demorou cerca de um
ano a colocar as suas tropas na Eugénia, mas quando cá chegaram, bem armadas e
treinadas, colocaram um rápido fim à guerra.
O Almeida, triste, teve de assumir todos os estragos
provocados pela guerra e pagar a todos os vencedores pesadas indemnizações.
A guerra acabou, mas a semente de uma nova guerra foi
lançada à terra em Versalhes.
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