segunda-feira, 10 de março de 2008

10 de Março

Faz hoje um ano que, em resultado de um grave acidente de viação (choque frontal), estive em risco de vida.



Com força de vontade e com a ajuda dos meus filhos e dos verdadeiros amigos, fui ultrapassando as dificuldades e hoje estou recuperado fisica e mentalmente a praticamente 100%. Há ainda algumas pequenas mazelas que vão sendo solucionadas com o tempo e sobretudo com muita paciência.



É certo que assumo a responsabilidade total deste acidente. No entanto, não posso esquecer que, na altura, me encontrava muito fragilizado por causa de uma forte depressão e da qual resultou, primeiro a separação e posteriormente o divórcio da mulher que eu amava e pela qual julgava ser amado.

Não houve traições a não ser a de a minha ex-mulher insistir em dizer que me amava quando eu já sentia, pelo menos desde os últimos três anos, que as palavras dela não correspondiam ao que eu sentia.

Passei um período difícil, sobretudo porque mesmo após a separação e até mesmo após o divórcio continuou a não assumir claramente que se separava de mim porque tinha deixado de me amar. Esta tortura, consciente e/ou inconsciente, só terminou em Setembro quando, pela primeira vez admitiu, sem equívocos, que se tinha separado de mim porque tinha deixado de gostar de mim. Ora, isso já eu sabia há mais de 3 anos e, por isso, nunca mais voltei a questionar o assunto. Foi sempre isso que desejei que me dissesse para que eu pudesse ter paz.

Claro que toda esta situação me levou a cometer muitos erros, mas para quem não ama os erros são sempre entendido como ataques pessoais.

Finalmente entre Novembro e Janeiro consegui resolver tudo o que ainda me apoquentava em relação à pessoa em causa. Hoje dou-me bem com ela, mas não sou seu amigo, apenas a respeito como mãe da minha filha.

Quando se resolve um problema encontram-se facilmente outras saídas e em Fevereiro reencontrei uma antiga amiga.

Com o problema de fundo resolvido voltei a estar disponível para amar, sem angústias nem sentimentos de culpa. Bastava encontrar a pessoa que me aceitasse como sou, sem querer fazer de mim um simples pau-mandado ou transformar-me num clone de uma mentalidade pequeno-burguesa na qual me era impossível integrar, até porque há muito que deixara de ser amado. Eu já o sabia e disse-o muitas vezes, mas a mentalidade pequeno-burguesa prefere defender as aparências do que assumir a realidade.

Essa dificuldade em assumir a realidade prolongou a agonia de uma relação que há muito tinha terminado, porque o amor era unilateral.

Com a cabeça limpa voltei a ser a pessoa que sempre fui. Deixei de estar condicionado, de ter de me enquandrar em padrões de vida que não eram os meus e os quais abomino, porque a opção daquela que dizia amar-me nunca foi o de construir uma vida comigo, mas sim que eu me enquadrasse na vida dela e que tinha imaginado para nós. Eu era descartável: e/ou aceitava o seu modelo ou seria reduzido a cinzas. Não o fui, porque reagi e porque contei com o amor dos meus filhos e dos meus verdadeiros amigos.

É facil dizer que se ama. O difícil é demonstrá-lo.



Esta madrugada fui até ao local do acidente, não para relembrar o passado, mas para festejar o presente e celebrar o futuro.

Com um grupo de amigos e com a minha actual companheira deslocamo-nos até ao local do acidente.

A minha companheira, esta sim uma verdadeira companheira, porque está ao meu lado sem me impor condições nem me julgar e muito menos condenar antes ouvir a minhas razões, fomos até ao local do acidente.

Amar e ser verdadeiramente amado, sem subterfúgios nem falsas aparências, é assim que agora sinto e estou feliz com o rumo da minha vida. A meu lado está uma mulher completa que me preenche totalmente.



Fomos até ao local do acidente, abrimos uma garrafa de espumante (bruto como deve ser, porque o doce é um espumante falseado), onde brindámos ao presente e ao futuro. No final, simbolicamente, parti a garrafa contra o local onde o meu carro, há um ano, tinha ficado imobilizado, enterrando assim, definitivamente, o passado.




O passado ficou definitivamente arrumado. Viva a Vida.

Viver um dia de cada vez como se fosse o último é o meu lema e dele não vou fugir até que a morte me agarre e me desprenda da vida.

FIM! Ou será PRINCÍPIO?

10 comentários:

Sandra Silva disse...

Mario,
Acabo de me emocionar com este relato fantástico da tua vida, que colocaste no blog!
Estou a torcer para que sejas muito feliz nesta "nova" vida...
Gosto muito de ser tua amiga...

Beijinho
Sami

Sorriso disse...

Grande Mário!
Não me esqueço que recebi a noticia do teu acidente, estava eu na praia, em Porto Santo... Também não estava bem e pior fiquei com a sensação de impotência por nada puder fazer para ajudar mas, na verdade, nada havia a fazer, apenas esperar... E assim fiz. Esperei até saber que ias melhorando aos poucos.

Mentia se não te dissesse que fiquei bastante... talvez incomodado quando te visitei numa das minhas passagens pelo continente. Estavas diferente e o que mais me transtornou foi a falta de um sorriso. Sem sorriso, não te conheço...
Mas também é verdade que já passou e, mais importante que tudo, já sorris, já és o Mário!
Estimo-te muito.

Abraço na alma!

Anónimo disse...

� com muita, muita alegria que constato, meu amigo, que o passado est� completamentamente exorcizado e que, pelo sonho, continua a caminhar!
Desejo-lhe toda a felicidade do mundo!
grande e forte abra�o

Ana Dias disse...

E como se diz aqui na Beira "para trás mija a burra"
Tudo de bom
Beijo

república portuguesa disse...

Então tu é que és o Spiritwolf? Muito me contas, companheiro bloguista! Para uma Leoa (Clube e Signo) como eu, dá para começar a entender o significado, a força e a mística da Chama do Dragão. Que ganhe sempre o melhor, pelo que descreves venceste uma batalha decisiva e vê-se que estás preparado para enfrentar qualquer campeonato. Parabéns também pela originalidade, de biliões de estórias reais que conheço é a primeira vez que tomo conhecimento de um caso em que se celebra o aniversário de um acidente de viação no local, com amigos e champanhota! Beijinhos RP
PS: não brinco com doenças, e gosto de tratar os bois pelos nomes; aquilo a que chamas “forte depressão” eu chamaria dor, e mais nada. “Depressão” para mim não passa de um pretexto para vender drogas duras e enriquecer ainda mais a indústria farmacêutica, e eu só receito mesmo em último recurso; na atmosférica acredito, normalmente a coisa resolve-se com chapéu de chuva, galochas e gabardina.

Mário Monteiro disse...

Obrigado RP pela tua simpatia e comentário. Eu de leão só tenho o signo, mas talvez também algum do carácter... sou extremamente preguiçoso.

Concordo com a análise que fazes da depressão, eu só vim a saber que a tinha, ou dor, depois da separação se confirmar, mas já há pelo menos 3 anos que andava numa situação de abatimento que não compreendia e só depois da efectivação da separação, quando resolvi ir ver o que se passava, é que percebi que o problema era muito mais profundo do que imaginava. Mas tudo já lá vai e o que passou abriu-me portas para novos encontrontos e caminhos, por isso não lamento nada, estou até agradecido.

Cara leoa aceita este abraço forte de dragão que também se sente lobo e... leão

Bjs

Flor do sonho disse...

Fiquei chocada com a sinceridade e clareza, sobretudo a clareza, com que falas (sim, já abandonei o prof, a pedido :P ) deste post.

È necessária uma imensa coragem para nos abrirmos deste forma, e mostrarmo-nos nus e crus.

Admiro-te por isso, que é tão dificil. Noto uma grande paz de alma. Fico feliz por ti, que tanto me marcaste.

Um beijo

Joana Pereira

Flor do sonho disse...

com que falas (sim, já abandonei o prof, a pedido :P ) deste post

leia-se

com que falas (sim, já abandonei o prof, a pedido :P )de ti neste post

;)

Anónimo disse...

Parabéns pela sua atitude perante a vida, apesar de todas as adversidades. Felicidades para si e para os seus.

Mário Monteiro disse...

Pequena correcção ao que foi escrito na altura. Quando digo "hoje dou-me bem com ela", não está totalmente correcto, apenas pensava que isso seria possível, o decorrer do tempo provou que hoje simplesmente não me dou com ela, as nossas relações, ou melhor, falas, são simplesmente institucionais. É a primeira pessoa com que eu não sou capaz de manter uma relação de amizade, ou no mínimo de cordialidade, depois dessa relação ter terminado.
Só há uma explicação: a falsidade em que essa relação se baseou. Não traí, não fui traído, no sentido que se dá normalmente à palavra trair numa relação. Fui traído porque o outro lado manteve e alimentou uma mentira de amor enquanto o "negócio" lhe foi rentável.