domingo, 28 de agosto de 2011

D. Manuel Martins, antigo Bispo de Setúbal


Declarações de D. Manuel Martins, antigo Bispo de Setúbal, aos microfones da Antena1 em Junho de 2011.

«Vejo esta crise com muita apreensão, com muito desgosto, com alguma vergonha. Estou convicto que esta crise era evitável se à frente do país estivessem pessoas competentes, isentas, pessoas que não se considerassem responsáveis por clubes, mas que se considerassem responsáveis por todo um povo, cuja sorte depende muito deles. E fico muito irritado quando, por parte desses senhores, que nós escolhemos e a quem pagamos generosamente, vejo justificar que esta crise impensável por que estamos a passar, é resultante de uma crise mundial. Há pontas de verdade nesta justificação. Esta crise, embora agravada por situações internacionais, é uma crise que já podia ter sido debelada por nós há muito tempo, se nós não andássemos a estragar o dinheiro que precisávamos para o pão de cada dia.

(...) Estas situações, da maneira como estão a ser agravadas e, sobretudo, da maneira como estão a ser mal resolvidas, podem ser focos muito perigosos de um incêndio que em qualquer momento pode surgir e conduzir a uma confrontação e a uma desobediência civil generalizadas. 

(...) Mete-me uma raiva especial quando vejo o governo a justificar as suas políticas e as suas preocupações de manter e conservar e valorizar o estado social do país. Pois se há alguém que esteja a destruir o estado social do país, é o governo, com o que se passa a nível da saúde, a nível da educação, a nível da vida das famílias, dos impostos, dos remédios, mas que tem só atingido as pessoas menos capazes, enfim as pessoas que andam no chão, as pessoas que estão cada vez com mais dificuldades em viverem o dia-a-dia, precisamente por causa destas medidas do governo.»

D. Manuel Martins, antigo Bispo de Setúbal.

sexta-feira, 19 de agosto de 2011

terça-feira, 16 de agosto de 2011

Palavras Sábias para Ouvidos Moucos

Quem disse que não havia ricos esclarecidos e solidários?

Warren Buffett defendeu hoje uma subida dos impostos para os mais ricos, criticando a desigualdade na "partilha de sacrifícios". 

Num artigo de opinião no New York Times, o multimilionário norte-americano Warren Buffett criticou a classe política do país por considerar que a partilha de sacrifícios pedido à população tem sido profundamente injusta com as classes mais pobres.

"Os nossos líderes têm pedido que partilhemos os sacrifícios. No entanto, quando fizeram esse pedido, esqueceram-se de mim. Verifiquei com os meus amigos milionários para saber que sacrifícios lhes foram pedidos, mas também eles ficaram intactos", começa por escrever o Oráculo de Omaha, no artigo "Parem de mimar os super-ricos".

Buffett deu mesmo o exemplo dos seus rendimentos. "No último ano, a minha conta fiscal - o imposto sobre rendimentos que paguei, tal como os impostos sobre salários pagos por mim e em meu nome - era de 6.938.744 dólares. Parece ser muito dinheiro, mas apenas foi 17,4% dos meus rendimentos tributáveis - e, na verdade, é uma percentagem menor do que foi paga por qualquer uma das outras 20 pessoas do meu escritório. As suas taxas de impostos estavam entre 33% e 41%", revelou.

Nesse sentido, o célebre investidor diz que "é bom ter amigos em lugares altos" em Washington: "Dão-nos estas e outras bênçãos por se sentirem compelidos a proteger-nos, como se fossemos uma espécie em vias extinção."

"Enquanto as classes baixa e média lutam por nós no Afeganistão, e enquanto a maioria dos americanos luta para fazer face às despesas, nós, os mega ricos, continuamos a ter isenções fiscais extraordinárias", confessou.

Buffett termina então o seu artigo considerando que ele e os seus amigos têm sido "mimados por tempo suficiente por um congresso que é amigo dos multimilionários". "Agora é hora do governo levar a sério a partilha dos sacrifícios", pediu.

O "Buraco" da Madeira


A Madeira tem um buraco, mas Portugal é que se afunda.

Notícias recentes revelam que a Madeira tem um buraco orçamental de cerca de 280 milhões de euros, graças a endividamentos acima dos limites estabelecidos.

Esses limites foram estabelecidos por uma lei da República aprovada na Assembleia da República, no entanto o Presidente daquela região autónoma continua impune e acima da lei. Para tal refugia-se na insularidade e de forma truculenta e demagógica arrasta os cidadãos da Madeira para esta assimetria, perpetuando-se no poder à custa de benesses e um olhar para o lado por parte do Governo Central, de todos os Governos , não apenas deste último, porque a cobardia, em relação ao Governo da Madeira, tem sido apanágio de todos os Governos e inclusivamente dos Presidentes da República Portuguesa, incluindo o actual a quem Alberto João Jardim designou de Sr. Silva.

A insularidade é um facto, por isso compreende-se a concessão de certos benefícios, quer à Madeira, quer aos Açores, mas esses benefícios não justificam a falta de contributos para para o orçamento Nacional, sobretudo em período de grave crise económica como a que atravessamos hoje em dia.

Os impostos ficam nas regiões autónomas, cujos cidadãos pagam menos que os restantes, e ainda recebem avultadas transferências do Orçamento de estado muito superior às do resto do País.

Sim, a insularidade e as assimetrias são um facto, mas a falta de solidariedade Nacional também. Há outras regiões do País que padecem de um problema semelhante, a interioridade, mas nem por isso recebem qualquer compensação semelhante à que recebem as Regiões Autónomas.


Se existem assimetrias entre Continente e Regiões Autónomas, também existem entre Interior e Litoral, ou mesmo entre Norte e Sul, para já não falar na permanente macrocefalia da Capital.

Sem intenção de ser exaustivo lembro por exemplo a portagem nas ex-SCUT. Só o Litoral Norte paga portagens, o que tem contribuído para o definhar da economia local, a qual, por sua vez, se reflecte na recuperação económica do resto do País.

Voltando à Madeira, motivo central deste artigo, o seu Presidente comporta-se como um autêntico soba, chantageando os Madeirenses e os Portugueses. Quando a Madeira era, de facto, ostracizada e considerada uma coutada, isto é, antes do 25 de Abril, o que fez o truculento Jardim pela sua bela região? Nada, porque fazia parte da elite que apoiava o antigo regime. Aqueles que de facto lutavam pela autonomia foram ultrapassados pela demagogia.

O Sr. Jardim não é Madeirense, nem Português, é um oportunista. Durante o PREC andou conluiado com a FLAMA, defendia a independência da Madeira. Porquê? De onde lhe vinham os apoios económicos? Dos Estados Unidos.

Quer o nazismo alemão, quer o fascismo italiano chegaram ao poder por meios legais e democráticos, porque a democracia olhava para o lado. Na Madeira de Jardim a democracia também olha para o lado, mas para quê desmantelar a farsa de democracia se esta, ou melhor, os dirigentes nacionais, vivem com medo de afrontar o senhor da Madeira? Para quê mudar o regime de faz de conta, se este beneficia o seu chefe?

O Sr. Jardim que reivindique a independência, que exija um referendo. Eu cá por mim voto SIM.

domingo, 7 de agosto de 2011

O Inferno nas Escolas

Apesar de não partilhar totalmente com António José Saraiva na confiança que ele deposita no actual Ministro da Educação, Nuno Crato, no entanto, e para já, dou-lhe o benefício da dúvida. Apesar de não ser seguidor das concepções relativas à ciência da educação de Nuno Crato, espero que, como professor, consiga (desejo) independência em relação aos políticos, pois prefiro um conhecedor no ministério, mesmo que discordando dele, do que um comissário político.

depois deste prólogo segue-se o excelente e clarividente artigo de José António Saraiva.



1 de Agosto, 2011 por José António Saraiva

Um dia, o Henrique Monteiro, que na altura era meu subdirector e responsável pela revista do Expresso, disse-me que tinha um novo colaborador na área da Ciência. «Chama-se Nuno Crato», concretizou, nome que não me dizia absolutamente nada. E acrescentou que o homem regressara há pouco do estrangeiro e lhe parecia uma pessoa particularmente interessante e culta.

A partir daí ele começou a escrever uma crónica semanal, que confirmava todos os elogios que lhe tinham sido feitos. Eram textos frescos, ao mesmo tempo didácticos, consistentes e imaginativos – qualidades que é muito raro coexistirem numa mesma rubrica.

Mais tarde vi-o na televisão, julgo que na SIC, num programa que mantinha as mesmas características. Parecia um programazito de curiosidades, mas era um programa científico concebido de uma forma divertida.

Vi-o também em debates televisivos, onde se revelou um homem inteligente, sensato e com aderência à realidade. O oposto do burocrata.

Como se vê, tenho em muito boa conta a capacidade do novo ministro da Educação. Julgo que ele pode ter as ‘ideias certas’ para esta área. E ser capaz de encontrar soluções criativas para as pôr em prática.

Esta parte não é negligenciável. Não basta, de facto, fazer diagnósticos correctos. Havendo um salto enorme entre o diagnóstico e a solução, a criatividade (associada ao bom senso) é decisiva para pôr de pé estratégias novas que funcionem.

E o país precisa disso como do pão para a boca. Neste momento, o sector da Educação é certamente o mais difícil de todos. Se nas Finanças há um trabalho colossal a fazer, na Educação o trabalho é homérico. As histórias que se contam sobre a indisciplina nas escolas são arrepiantes. E não me refiro só àquelas que foram objecto de grande mediatização. Refiro-me às histórias corriqueiras, que acontecem a toda a hora. Como um professor mandar um aluno apanhar um papel que atirou para o chão e ouvir este responder: «Apanhe você!».

Pergunto a um professor experiente por que não se expulsam das escolas esses alunos indisciplinados, que acabam por inquinar o ambiente. Ele responde-me: «Porque a lei não permite que eles sejam expulsos do ensino público. Assim, se são expulsos de uma escola, vão criar problemas noutra. Ora não está correcto que, para nos livrarmos de um problema, o atiremos para cima dos colegas». Enfim, parece uma questão sem saída.

Há hoje professores que vivem aterrorizados, com medo dos alunos. E outros que desistiram do ensino porque não aguentavam mais. E outros que gostam de dar aulas nas prisões porque aí «ao menos há disciplina». O panorama é aterrador. A Educação tem sido desde o 25 de Abril um campo de experiências – e os resultados são catastróficos. A indisciplina atingiu níveis insuportáveis, a desmotivação dos professores alastrou assustadoramente, o nível de aprendizagem baixou.

É preciso dizer que se têm dado, no sector, muitos passos errados.

O anterior Governo tentou pôr em prática um novo método de avaliação dos professores – e muita gente, da esquerda à direita, apoiou a iniciativa. Criticaram-se os professores por não quererem ser avaliados. Quase todos os opinion makers alinharam neste coro.

Ora, a maior parte das pessoas em Portugal tem vistas curtas, pouco vendo para lá da ponta do nariz. Numa observação superficial, o objectivo de avaliar os professores era bom: se todas as pessoas são avaliadas, por que razão os professores não haviam de ser?

Sucede que essa avaliação introduzia no sistema educativo uma perversão que ninguém viu: punha os professores em cheque, questionava subtilmente a sua competência, atirando assim para cima deles parte das responsabilidades pelo fracasso do ensino. E, last but not least, retirava na prática autoridade aos professores, mostrando que o Governo não os apoiava.

Ora a prioridade no ensino neste momento não é avaliar os professores – é avaliar convenientemente os alunos. Aí é que bate o ponto. E associado a este objectivo, há outro: fazer regressar a disciplina às escolas. Não há ensino, não há aproveitamento, em suma, não há escola, sem disciplina.

Os meus filhos andaram sempre no ensino oficial: na escola primária oficial, no liceu do Estado, na universidade pública. Assim, posso dizer que gastei muito pouco dinheiro com as formaturas deles. Ora hoje vejo pessoas, mesmo modestas, a porem os filhos nas escolas privadas. Quando lhes pergunto porquê, espantam-se e respondem: «Eu não ficava descansado se o meu filho andasse na escola pública».

Há duas gerações, a situação era a oposta: os melhores alunos eram os dos liceus do Estado – sendo os das escolas privadas vistos como cábulas que nunca passariam de ano se andassem no liceu público.

E esta quase obrigatoriedade de ter hoje os filhos em colégios privados tem enormes consequências sociais. Como educar os filhos passou a ser muito caro, as pessoas evitam tê-los. «Um chega muito bem», é o que se ouve dizer. E cada vez há menos crianças. A nossa sociedade envelhece.

Roberto Carneiro, que foi ministro da Educação há 20 anos e é um homem muito capaz, levou a cabo uma mudança que se revelaria decisiva: chamou as famílias às escolas. Os pais foram convidados a participar mais activamente na vida da escola dos filhos, o que parecia um bom e lógico objectivo. Mas o resultado foi desastroso. A maior parte dos pais vai à escola apenas para defender os seus filhotes, mesmo quando estes fazem as piores patifarias. Poucos pais se mostram interessados em melhorar o ensino; a sua principal preocupação é defender egoisticamente os filhos, queixando-se muitas vezes de professores ou de colegas.

A entrada dos pais na escola, em vez de contribuir para a solução, contribuiu para ampliar o problema.

Indisciplina generalizada, dificuldade de castigar os prevaricadores, desautorização dos professores, envolvimento da família na vida das escolas – tudo isto forma um cocktail explosivo muito difícil de enfrentar.

Confio, porém, neste ministro.

Confio na sua capacidade para perceber o actual estado de coisas, para fazer um diagnóstico correcto, para detectar os pontos fracos, para encontrar soluções que sejam simultaneamente sensatas e criativas.

Eu sei que não basta isto. Depois há a máquina. A pesadíssima máquina do Ministério da Educação contra a qual esbarraram muito boas intenções. Ouvi pessoalmente queixas de António Brotas, de José Augusto Seabra, de Diamantino Durão, de Marçal Grilo, de Oliveira Martins, do próprio Roberto Carneiro, ao peso da burocracia daquele ministério.

Mas, mesmo assim, continuo a confiar em Nuno Crato. Acredito que seja capaz de romper este ciclo infernal. E tenho um palpite: se ele não conseguir, muito dificilmente outro conseguirá. E aí será a catástrofe.