segunda-feira, 5 de julho de 2010

A "Lucidez" de MÁRIO SOARES


"Tudo o que aqui relato é verdade. Se quiserem, podem processar-me.

Eis parte do enigma. Mário Soares, num dos momentos de lucidez que ainda vai tendo, veio chamar a atenção do Governo, na última semana, para a voz da rua.

A lucidez, uma das suas maiores qualidades durante uma longa carreira politica. A lucidez que lhe permitiu escapar à PIDE e passar um bom par de anos, num exílio dourado, em hotéis de luxo de Paris.

A lucidez que lhe permitiu conduzir da forma "brilhante" que se viu o processo de descolonização.

A lucidez que lhe permitiu conseguir que os Estados Unidos financiassem o PS durante os primeiros anos da Democracia.

A lucidez que o fez meter o socialismo na gaveta durante a sua experiência governativa.

A lucidez que lhe permitiu tratar da forma despudorada amigos como Jaime Serra, Salgado Zenha, Manuel Alegre e tantos outros.

A lucidez que lhe permitiu governar sem ler os "dossiers"...

A lucidez que lhe permitiu não voltar a ser primeiro-ministro depois de tão fantástico desempenho no cargo.

A lucidez que lhe permitiu pôr-se a jeito para ser agredido na Marinha Grande e, dessa forma, vitimizar-se aos olhos da opinião pública e vencer as eleições presidenciais.

A lucidez que lhe permitiu, após a vitória nessas eleições, fundar um grupo empresarial, a Emaudio, com "testas de ferro" no comando e um conjunto de negócios obscuros que envolveram grandes magnatas internacionais.

A lucidez que lhe permitiu utilizar a Emaudio para financiar a sua segunda campanha presidencial.

A lucidez que lhe permitiu nomear para Governador de Macau Carlos Melancia, um dos homens da Emaudio.

A lucidez que lhe permitiu passar incólume ao caso Emaudio e ao caso Aeroporto de Macau e, ao mesmo tempo, dar os primeiros passos para uma Fundação na sua fase pós-presidencial.

A lucidez que lhe permitiu ler o livro de Rui Mateus, "Contos Proibidos", que contava tudo sobre a Emaudio, e ter a sorte de esse mesmo livro, depois de esgotado, jamais voltar a ser publicado.

A lucidez que lhe permitiu passar incólume as "ligações perigosas" com Angola, ligações essas que quase lhe roubaram o filho no célebre acidente de avião na Jamba (avião esse transportando de diamantes, no dizer do então Ministro da Comunicação Social de Angola).

A lucidez que lhe permitiu, durante a sua passagem por Belém, visitar 57 países ("record" absoluto para a Espanha - 24 vezes - e França - 21), num total equivalente a 22 voltas ao mundo (mais de 992 mil quilómetros).

A lucidez que lhe permitiu visitar as Seychelles, esse território de grande importância estratégica para Portugal, aproveitando para dar uma voltinha de tartaruga.

A lucidez que lhe permitiu, no final destas viagens, levar para a Casa-Museu João Soares uma grande parte dos valiosos presentes oferecidos oficialmente ao Presidente da Republica Portuguesa.

A lucidez que lhe permitiu guardar esses presentes numa caixa-forte blindada daquela Casa, em vez de os guardar no Museu da Presidência da República.

A lucidez que lhe permite, ainda hoje, ter 24 horas por dia de vigilância paga pelo Estado nas suas casas de Nafarros, Vau e Campo Grande.

A lucidez que lhe permitiu, abandonada a Presidência da Republica, constituir a Fundação Mário Soares. Uma fundação de Direito privado, que, vivendo à custa de subsídios do Estado, tem apenas como única função visível ser depósito de documentos valiosos de Mário Soares. Os
mesmos que, se são valiosos, deviam estar na Torre do Tombo.

A lucidez que lhe permitiu construir o edifício-sede da Fundação violando o PDM de Lisboa, segundo um relatório do IGAT, que decretou a nulidade da licença de obras.

A lucidez que lhe permitiu conseguir que o processo das velhas construções que ali existiam e que se encontrava no Arquivo Municipal fosse requisitado pelo filho e que acabasse por desaparecer
convenientemente num incêndio dos Paços do Concelho.

A lucidez que lhe permitiu receber do Estado, ao longo dos últimos anos, donativos e subsídios superiores a um milhão de contos.

A lucidez que lhe permitiu receber, entre os vários subsídios, um de quinhentos mil contos, do Governo Guterres, para a criação de um auditório, uma biblioteca e um arquivo num edifico cedido pela Câmara de Lisboa.

A lucidez que lhe permitiu receber, entre 1995 e 2005, uma subvenção anual da Câmara Municipal de Lisboa, na qual o seu filho era Vereador e Presidente.

A lucidez que lhe permitiu que o Estado lhe arrendasse e lhe pagasse um gabinete, a que tinha direito como ex-presidente da República, na.... Fundação Mário Soares.

A lucidez que lhe permite que, ainda hoje, a Fundação Mário Soares receba quase 4 mil euros mensais da Câmara Municipal de Leiria.

A lucidez que lhe permitiu fazer obras no Colégio Moderno, propriedade da família, sem licença municipal, numa altura em que o Presidente era... João Soares.

A lucidez que lhe permitiu silenciar, através de pressões sobre o director do "Público", José Manuel Fernandes, a investigação jornalística que José António Cerejo começara a publicar sobre o tema.

A lucidez que lhe permitiu candidatar-se a Presidente do Parlamento Europeu e chamar dona de casa, durante a campanha, à vencedora Nicole Fontaine.

A lucidez que lhe permitiu considerar José Sócrates "o pior do guterrismo" e ignorar hoje em dia tal frase como se nada fosse.

A lucidez que lhe permitiu passar por cima de um amigo, Manuel Alegre, para concorrer às eleições presidenciais mais uma vez.

A lucidez que lhe permitiu, então, fazer mais um frete ao Partido Socialista.

A lucidez que lhe permitiu ler os artigos "O Polvo" de Joaquim Vieira na "Grande Reportagem", baseados no livro de Rui Mateus, e assistir, logo a seguir, ao despedimento do jornalista e ao fim da revista.

A lucidez que lhe permitiu passar incólume depois de apelar ao voto no filho, em pleno dia de eleições, nas últimas Autárquicas.

No final de uma vida de lucidez, o que resta a Mário Soares? Resta um punhado de momentos em que a lucidez vem e vai. Vem e vai. Vem e vai.

Vai.... e não volta mais."

12 comentários:

Piloto Automatico disse...

...e o povo a pensar que era só a Direita de Cavaco Silva e de Durão barroso que chupava a nação em proveito próprio.
Raro momento de lucidez da Clarinha

Graciete Rietsch disse...

Desta vez a Clara Ferreira Alves acertou em cheio.

Um beijo, Mário.

Anónimo disse...

Refere-se a autora e o jornal, mas não se refere a data de publicação.
Afinal, vai-se a ver e este texto é uma adaptação aumentada de um texto de Ricardo Santos Pinto, no blog 5 dias, em 12 de Janeiro de 2009 http://5dias.net/2009/01/12/momentos-de-lucidez/
Tudo o que está aqui contido até pode ser verdade, mas (aparentemente) é mentira que seja da autoria de Clara Ferreira Alves ou que tenha sido publicado no Expresso (Eu leio regularmente esse jornal e nunca dei por este artigo, talvez ande distraído).
Mesmo que tudo isto seja verdade, usar uma mentira para o divulgar, só vem beneficiar quem, eventualmente, seja culpado.

José António, um cidadão que, apesar de tudo, se recusa a engolir patranhas, venham de onde vierem.

Mário Monteiro disse...

Meu caro José António, agradeço o esclarecimento, que fica aqui registado para que os visitantes possam ponderar sobre a veracidade dos factos relatados e sobre o autor deste texto.

Apareça sempre que quiser,

Cia Teatro dos Orelhas disse...

Muito bom este texto. Primeira vez que passo por aqui e será a primeira de muitas... senti muita verdade e despojamento em cada palavra aqui descrita.

Parabéns por esse espaço tão aconchegante e verdadeiro... vou te seguir.

Beijos

Cia Teatro dos Orelhas disse...

Ah! mais uma coisa, o nome do blog é ótimo!!!!

Agostinho Magalhães disse...

A lucidez de criar o partido socialista para que no 25 de Abril de 1974 o partido comunista não tomasse o poder sem oposição!
Agostinho Magalhães

Anónimo disse...

-Grande Mário, Lucidez de oportunista,com as calças do meu Pai também eu sou um homen.
É por tudo isto que o País está como está,não há impostos que possam resistir a tantos desvios de dinheiros publicos.
António Nunes.
08.11.2010

Anónimo disse...

CLARA FERREIRA ALVES no EXPRESSO
Sábado, 16 de abril de 2011

"Este é o maior fracasso da democracia"

"Circula na net como um vírus um texto com este título falsamente assinado por mim. Circula na net como um vírus um texto com o título ESTE É O MAIOR FRACASSO DA DEMOCRACIA PORTUGUESA, falsamente assinado por mim e falsamente publicado no Expresso. O texto começou a circular há cerca de dois anos e apesar dos desmentidos que entretanto fiz, tanto no programa "Eixo do Mal" como numa nota nesta coluna, o texto continua a circular e continuo a receber mails tanto de admiradores (!) do texto como de leitores que acham surpreendente o ataque a um amigo meu. [...]"

PS: É um princípio básico para quem escreve, noticia ou divulfga informação, verificar as fontes.

Felicidades para o seu blog.
Daid Martins
(Historiador)

Anónimo disse...

É pena terem usado o nome da Clara que ainda por cima é amiga pessoal de longa data do visado, porque muito do que é afirmado é totalmente verdade e desta forma, invalidaram o argumento subjacente.

Importante seria provar as afirmações com links que as comprovassem e a informação está aí na net à espera de ser consultada... mas tirem a CFA disto..

muguele disse...

Olá, Mário.
Se calhar não era má ideia editar este post e retirar as referências à Clara Ferreira Alves, uma vez que, apesar de o post já não ser recente, ainda andam aí cromos a partilhá-lo a partir daqui, dando a autoria à senhora. Não custa nada e poupa-te eventuais problemas.
Abraço!

Mário Monteiro disse...

Ok, obrigado Muguele, não sabia que isso estava a acontecer, como quando publiquei este post pensava que a informação era fiável, mas penso que já retirei as referências á senhora e peço-lhe publicamente desculpa por ter publicado algo que não comprovei antecipadamente