quinta-feira, 16 de agosto de 2007

A Mentira

Desculpa João, mas não consegui resistir a copiar este excelente texto sobre a mentira, da autoria de Pascoaes, que está no teu blog. É um alerta que merece muita reflexão.

Mais grave que mentir aos outros é mentir a nós próprios. Hoje vive-se sobre o culto da mentira e da superficialidade, é por isso que alertas como este continuam a ser uma pedrada no charco desta sociedade egoísta e egocêntrica. Combater a mentira é fundamental.

Aqui fica o texto de Teixeira de Pascoaes:


"A MENTIRA É A BASE DA CIVILIZAÇÃO MODERNA"
Teixeira de Pascoaes em “A Saudade e o Saudosismo”


"É na faculdade de mentir, que caracteriza a maior parte dos homens actuais, que se baseia a civilização moderna. Ela firma-se, como tão claramente demonstrou Nordau, na mentira religiosa, na mentira política, na mentira económica, na mentira matrimonial, etc... A mentira formou este ser, único em todo o Universo: o homem antipático.

Actualmente, a mentira chama-se utilitarismo, ordem social, senso prático; disfarçou-se nestes nomes, julgando assim passar incógnita. A máscara deu-lhe prestígio, tornando-a misteriosa, e portanto, respeitada. De forma que a mentira, como ordem social, pode praticar impunemente, todos os assassinatos; como utilitarismo, todos os roubos; como senso prático, todas as tolices e loucuras.

A mentira reina sobre o mundo! Quase todos os homens são súbditos desta omnipotente Majestade. Derrubá-la do trono; arrancar-lhe das mãos o ceptro ensanguentado, é a obra bendita que o Povo, virgem de corpo e alma, vai realizando dia a dia, sob a direcção dos grandes mestres de obras, que se chamam Jesus, Buda, Pascal, Spartacus, Voltaire, Rousseau, Hugo, Zola, Tolstoi, Reclus, Bakounine, etc. etc.

E os operários que têm trabalhado na obra da Justiça e do Bem, foram os párias da Índia, os escravos de Roma, os miseráveis do bairro de Santo António, os Gavroches, e os moujiks da Rússia nos tempos de hoje. Porque é que só a gente sincera, inculta e bárbara sabe realizar a obra que o génio anuncia? Que intimidade existirá entre Jesus e os rudes pescadores da Galileia? Entre S. Paulo e os escravos de Roma? Entre Danton e os famintos do bairro de Santo António? Entre os párias e Buda? Entre Tolstoi e os selvagens moujiks? A enxada será irmã da pena? A fome de pão parecer-se-á com a fome de luz?."...

1 comentário:

Anónimo disse...

PORTO, 2007.08.16

Viva.
Obrigado pela relevância dada ao texto do homem de Amarante.
João