sábado, 25 de agosto de 2007

A Vida

Em jeito de homenagem, mais ou menos desajeitada, aqui fica um texto do João Brito Sousa do Braços ao Alto:

“Cheguei ao fim dos noventa minutos do jogo vida, aquele período onde não podemos falhar ou onde devemos falhar menos e é nossa obrigação dar o melhor de nós próprios. Já estou no prolongamento. Agora é hora do balanço, não obrigatório, é certo, mas que posso optar por fazê-lo ou não. E optei sim.

Naquilo que fiz na vida, é evidente que não me arrependo de nada, mas se começasse hoje não fazia da mesma maneira, pois penso que fiz muita coisa errada ou quase tudo. Cometi erros tremendos que só agora dei por eles. Ou talvez não sejam erros assim tão significativos. Na vida tudo é relativo. A vida não veio para ficar; a vida vai-se.

Apesar de tudo e de todos os momentos menos bons que vivi no passado, não dou por mim a queixar-me deles. Não estou contente por aí além. Tenho dores como qualquer um, sofri alguma coisa e sofro. Por coisas alheias à minha vontade e tenho a certeza a que não interferi em nada para piorar as coisas.

Gosto da palavra vida e do que ela encerra de misterioso talvez. E penso que a vida é um mistério e dos grandes. Tantas são as asneiras que se fazem e conseguimos subsistir. É verdade que são muitas e que mais tarde pagaremos a factura como resultado dessas asneiras todas.

Resta da vida uma única coisa boa: os amigos e, como consequência disso, a família, se os laços criados na relação forem laços de amizade. Às vezes não existem esses laços. São inimigos como irmãos, costuma dizer-se. Os interesses criados não são compatíveis com a ambição de cada um. Surge a agressão. A vida tem graça e piada até se for levada com calma e com consideração uns pelos outros. E é pena que acabe tão depressa..

Nunca estipulei nenhum estilo de vida. Vivi a vida. Com regras umas vezes outras vezes sem elas. Casei-me aos vinte e seis anos talvez porque os outros o fizeram também. Senti talvez a mesma necessidade do que eles. A vida é a dois porque a sós não temos a noção total dos problemas que ela contem. A vida tem problemas que às vezes são grandes e de difícil resolução. Mas em princípio tudo se resolve. Bem ou mal. Resolver mal também é resolver o problema. Resolver aqui quer dizer que ele deve deixar de existir."

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O meu comentário:

Obrigado João por esta lição de vida, mesmo que não concorde contigo quando dizes que resolver mal também é uma forma de resolver os problemas, porque quando se resolve mal, o problema pode aparentemente desaparecer, porque fugimos dele, mas inevitavelmente surgem outros problemas ou então agrava-se o prolema inicial. Para mim a resolução dos problemas passa sempre, tem de passar, pelo diálogo. Quando o diálogo não existe temos um comportamento de avestruz, escondemo-nos do problema, mas ele continuo ali, bem perto de nós, apenas fechamos os olhos, ou olhamos para o lado, mas o problema continua a existir ou até mesmo a agravar-se.

Quanto ao arrependimento, também não me arrependo de nada, mas tento aprender com os erros. Não me arrependo porque não posso voltar atrás para corrigir, mas tento sempre transformar-me numa pessoa melhor para não cometer os mesmos erros e isso também é uma forma de arrependimento, porque é uma tomada de consciência.

Infelizmente muitos de nós só aprendemos com a dor e o sofrimento. Pergunto-me porquê? Se não fosse assim todos seriamos mais felizes, porque saberiamos dar a resposta certa no momento certo. Mas, como é evidente, não somos perfeitos, mas também não podemos ter medo de errar. Quando o medo está sempre presente a vida torna-se insuportável e perdemos a capacidade de amar. Vivemos angustiados.

Viver a vida com frontalidade e autenticidade, com os sentimentos à flor da pele, mas fundamentalmente com amor. Com amor pelos outros, com amor pela Natureza, com amor por nós próprios, com amor pela vida, mas fundamentalmente com amor pelo, ou pela, companheira do nosso caminho sem unilateralismos, mas com reciprocidade.

Viver a vida é amar e ser amado, aprender a ceder sem abdicar dos princípios, é dar e receber. Em resumo é estar nas coisas de corpo inteiro e não estar constantemente a racionalizar.

Quando há amor devemos fazer das falhas um caminho para o consolidar e não o contrário. De outra forma não podemos dizer que amamos, se o dissermos estamos a trairmo-nos e a trair os outros, consciente ou inconscientemente.

Sem querer acabei por extrapolar o conteúdo do teu texto, peço desculpa pelo abuso. Um abraço.

Spiritwolf

1 comentário:

Anónimo disse...

PORTO, 2007.08.25

Aló MM.

Muito obrigado pela evidência dada ao meu texto no teu blog.

Aí vai um abraço do

João Brito Sousa