A festa de S. João, como sabem, tem longas tradições no Porto.
O S. João, ou melhor o Solstício de Verão, começou por ser uma festa pagã. Celebrava-se então a fertilidade e a fecundidade. Com o advento do cristianismo, e seguindo o princípio de que se não os consegues vencer junta-te a eles, foi associado à festa um santo. Aos poucos, a festa foi perdendo o seu cariz libertário e foi-se transformando numa festa religiosa. Da junção entre paganismo e cristianismo surgiu uma amálgama, um "caldo" que assume, de forma sincrética, os dois conceitos.
A partir de meados do século XX, o S. João do Porto assume também um carácter político. Vivia-se em regime de ditadura e, consciente ou inconscientemente, era a única forma do povo descer à rua sem ser perseguido pela polícia. Era também uma festividade democrática, pois não havia distinções classes sociais e cada um dava asas às suas ansiedades.
No pós 25 de Abril, o S. João foi-se descaracterizando, pois muito do que movia as pessoas a descer às ruas foi perdendo importância. Agora o povo já podia manifestar-se livremente.
Hoje não existe um S. João, mas muitos.
As ruas continuam a ser ocupadas, mas de uma forma diferente. Hoje é a festa do plástico, de uma liberdade que já existe, de um "santo pagão" ou de um "pagão beatificado", do negócio, dos políticos e dos seus aproveitamentos.
Por isso, eu prefiro passar este dia na companhia dos meus amigos e dar a esta festa um carácter laico e libertário, aquele que para mim sempre teve esta festa.
Vejam lá se gostam.
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As primeiras honras são para o anfitrião.
A alcateia começa a reunir. Mmmmm, apetitosa esta mesa.
Barriguinha cheia, é hora de iniciar a brincadeira.
Ouvem-se os primeiros uivos.
Nesta alcateia há muitas lobas e lobos, mas nenhum é dominante.
Faltou a fogueira, mas o balão não foi esquecido.
Ó patego, olha o balão.
O balão já vai alto no céu, mas aqui na terra as coisas começam também a subir.
O anfitrião resolve fazer um discurso.
Está na hora da nossa princesa nos deixar.
E agora? O que é que vamos fazer?
Talvez... dançar?...
A minha lobinha pequenina vem desafiar-me.
Às vezes é necessário meter na ordem um lobito mais irrequieto.
Retemperar forças.
Para que a noite acabe num abraço.
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A poucos quilómetros do Porto, mais concretamente em Sobrado (Valongo), o S. João tem outras cores e outra história. São as Bugiadas.
Em Sobrado, todos os anos, no dia 24 de Junho, realizam-se as Bugiadas. A história é fácil de contar. No tempo em que a Ibéria era dominada pelos mouros (Mourisqueiros) os cristão (Bugios) tentavam recuperar a terra perdida. Na batalha final os Bugios derrotam os Mourisqueiros graças à ajuda preciosa da serpente Cucamacuca.
Claro que sentados a uma mesa a beber umas "bjecas" e a "morfar" umas farturas não se está nada mal.
Este ano, numa das inevitáveis rotundas de Sobrado, foi inaugurada, com pompa e circunstância, uma polémica e ridícula estátua que pretenderia homenagear e perpetuar as bugiadas para a posteridade. Bem, esta estátua mais parece a da aparição da virgem aos três pastorinhos, mas todos mascarados de bugios ou mourisqueiros. Meus amigos, para perpetuar as Bugiadas, basta que não deixem morrer a tradição, deixem-se de estatuetas!
3 comentários:
hey, oh lobito... a estátua 'tá bem fixe!!!!
Além de retratar uma das mais belas cenas da festa, faz todo o sentido.
Não te perdoo teres estado a 10 metros de casa e não teres aparecido para um abraço ou um café! :P
Desculpa, prometo que da próxima vez apareço.
Finalmente.....lol
Beijo Marta
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