segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

Advogados


Justiça por Marília Chartune

Sem querer generalizar, embora tenha a percepção que uma grande percentagem de advogados no nosso país faça o mesmo, vou contar uma pequena história.

Há cerca de três anos precisei de recorrer aos serviços de um advogado por três vezes, não vou relatar o motivo porque é pessoal.

A primeira vez que fui ao seu consultório apenas lhe pedi um esclarecimento sobre um determinado documento. Deu-me o esclarecimento, mas não me alertou para algo que mais tarde me obrigou a recorrer aos seus serviços. A conversa não durou nem 30 minutos.

Das segunda e terceira vezes que fui ao seu consultório (cerca de meia hora por cada consulta), já por causa de não me ter alertado para algo que estava escrito no dito documento, o senhor doutor, sempre muito simpático, fez meia dúzia de telefonemas a outro advogado, recebeu um fax, conseguiu um acordo verbal e deixou ficar o assunto em banho Maria, a coisa estava correr-lhe bem e, provavelmente ao colega também, por isso resolvi prescindir dos seus serviços.

Pedi-lhe a conta pelos serviços prestados, dando por encerrada a questão, agradeci o trabalho realizado, mas a partir daquele momento as duas partes tratariam do problema directamente. O valor solicitado foi uma enormidade (750 Euros) para hora e meia a duas horas de conversa, meia dúzia de telefonemas, um pequeno documento (tipo chapa 5) e um fax recebido.

Lamentou que tivesse prescindido dos seus serviços, disse-me que tinha comunicado ao colega que eu tinha decidido encerrar o caso e que, segundo me contou, o colega também lamentou. Pois acredito que ambos tenham lamentado, o problema era ligeiro e só aconteceu por uma falta de diálogo, passageiro diga-se, entre os interlocutores, enquanto que os ditos senhores doutores estavam a sacar uma pipa de massa às pessoas que "representavam".

Inocentemente pedi-lhe um recibo. A resposta do senhor doutor foi curta e grossa: para passar recibo tinha de acrescentar o IVA, mais 21% (965 Euros). Na altura estava com a minha vida financeira muito complicada, porque tinha sido obrigado a grandes despesas nesse ano. Por isso cedi à chantagem e o dinheiro foi transferido para uma conta bancária.

Como sabemos a maioria dos políticos são oriundos da advocacia e quando são denunciados por falcatruas juram a pés juntos que estão de consciência tranquila, que é tudo uma cabala, que são bons pais de família, que vão à missa todos os dias, que até são sócios do clube A, B ou C e amigos pessoais dos respectivos presidentes, etc.

Sei que pactuei com a fraude, tenho como atenuante a minha situação económica para ceder à chantagem, mas deixo aqui o alerta para que não se caia neste tipo de chantagens. Eu não voltarei a fazê-lo, por mais simpáticos que sejam os senhores doutores.

Por outro lado é necessário que haja transparência em relação aos serviços prestados pelos advogados, para isso deve ser dado conhecimento prévio aos potenciais clientes, das tabelas de honorários que estes senhores doutores podem cobrar de acordo com o serviço solicitado.

1 comentário:

Micael Sousa disse...

Já agora gostava de relevar também uma experiência menos própria que presenciei por parte de uma advogada. Aquando da realização de uma formação de Higiene e Segurança no Trabalho, frequentei um modulo de legislação. Esse modulo foi conduzido por uma advogada que passou quase toda a formação a prescrever e ensinar métodos de fuga a um sem fim de leis e obrigações. Na altura vi-me forçado a chamar a formadora à razão, demonstrando-lhe que eu não estava ali para tirar um curso de ilegalidades, mas sim um de HST. Lá se voltou a falar da matéria propriamente dita, apesar de algum descontentamento dos meus colegas, que apreciavam imenso aquelas dicas menos próprias. Aqui a culpa penso que se pode repartir entre a formadora e os formados, um reflexo da nossa sociedade.