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Não canto porque sonho.
Canto porque és real.
Canto o teu olhar maduro,
O teu sorriso puro,
A tua graça animal.
Canto porque sou homem.
Se não cantasse seria
O mesmo bicho sadio
Embriagado na alegria
Da tua vinha sem vinho.
Canto porque o amor apetece.
Porque o feno amadurece
Nos teus braços deslumbrados.
Porque o meu corpo estremece
Por vê-los nus e suados.
Eugénio de Andrade; De As Mãos e os Frutos (1948)
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