quinta-feira, 3 de janeiro de 2008

Entender o Porto

Com aquele abraço na alma ao meu amigo Rui Vasco e um muito obrigado por me ter mandado estas frases, que aqui ficam publicadas e que, embora conhecidas, nunca é demais recordar.

Espero que esta leitura ajude os forasteiros a melhor decifrar esta cidade secreta que Eugénio de Andrade, um seu filho adoptivo, não hesitou em considerar a mais fechada das nossas cidades.

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Frases soltas que alguns grandes escritores e intelectuais portugueses escreveram sobre o Porto:

O B PELO V

Se na nossa cidade há muito quem troque o b por v, há pouco quem troque a liberdade pela servidão.

Almeida Garrett

MARAVILHAS E ANGÚSTIAS

O Porto é o lugar onde para mim começam as maravilhas e todas as angústias.

Sophia de Mello Breyner

COMO SE VINGA

O portuense não gosta de Lisboa. Não gosta da polícia. Não gosta da autoridade. Da autoridade vinga-se, desprezando-a. Da Polícia vinga-se, resistindo-lhe. De Lisboa vinga-se, recebendo os lisboetas com a mais amável hospitalidade e com a mais obsequiada bizarria.

Ramalho Ortigão

RIR DESBRAGADAMENTE

E quanto ao riso, o Porto gosta de rir e de rir com uma certa insolência: ri mais desbragadamente, mais primariamente, mais saudavelmente e com mais gosto do que Lisboa.

Vasco Graça Moura

REGAÇO ABERTO PARA O RIO

Afinal, o Porto, para verdadeiramente honrar o nome que tem, é, primeiro que tudo, este largo regaço aberto para o rio, mas que só do rio se vê, ou então, por estreitas bocas fechadas por muretes, pode o viajante debruçar-se para o ar livre e ter a ilusão de que todo o Porto é a Ribeira.

José Saramago

UMA ALMA DE MURALHA

Toda a cidade, com as agulhas dos templos, as torres cinzentas, os pátios e os muros em que se cavam escadas, varandas com os seus restos de tapetes de quarto dependurados e o estripado dos seus interiores ao sol fresco, tem toda ela uma forma, uma alma de muralha.

Agustina Bessa Luís

INVEJAS

Lisboa inveja ao Porto a sua riqueza, o seu comércio, as suas belas ruas novas, o conforto das suas casas, a solidez das suas fortunas, a seriedade do seu bem-estar. O Porto inveja a Lisboa a Corte, o Rei, as Câmaras, S. Carlos e o Martinho. Detestam-se!

Eça de Queiroz

LIÇÃO DE PORTUGUESISMO

Uma ida ao Porto é sempre uma lição de portuguesismo, tanto mais rica quanto mais raramente lá se vai. É indispensável – claro! - um mínimo de contacto reiterado com esse lar da nação para nele vermos algumas das significações latentes que enriquecem a nossa consciência de práticas.

Vitorino Nemésio

UMA FAMÍLIA

O Porto não é em rigor uma cidade: é uma família. Quando algum mal o acomete, todos o sentem com a mesma intensidade; quando desejam alguma coisa, todos a desejam ao mesmo tempo. Os portuenses são tão ciosos da integridade da sua cidade, como os portugueses em geral da integridade da nação.

João Chagas

ASPECTO SEVERO E ALTIVO

O Porto ergue-se em anfiteatro sobre o esteiro do Douro e reclina-se no seu leito de granito. Guardador de três províncias e tendo nas mãos as chaves dos haveres delas, o seu aspecto é severo e altivo, como o de mordomo de casa abastada.

Alexandre Herculano

18 comentários:

Anónimo disse...

PORTO, 2008.01.03

Meu caro MM.

Boa recolha de frases, muitas de épocas antigas e poucas de épocas actuais.

Mesmo assim a querer dizer apenas que o PORTO é bairrista.

Com estas frases continuo a não perceber o Porto!... e não acredito que alguém perceba esta idolatria a uma cidade de quem esses intelectuais apresentan apenas coisas louváveis.

Nada me move contra a cidade... mas não me revejo nela.

O Porto cidade é uma coisa; eu outra.

As frases estão antiquadas... parece-me.

Mário Monteiro disse...

Meu caro amigo JBS

Algumas frases são do século XIX, mas outras de finais do século XX a maioria das quais nem são proferidas por portuenses. Talvez 50/50, nem me dei ao trabalho de as contar.

Mas o que define o carácter duma cidade não é o que acontece no momento, mas sim a sua história. O Porto não precisa que o entendam ou que gostem dele, mas simplesmente que o olhem sem preconceitos. Eu gosto de Lisboa e do Alentejo e do Algarve, do Brasil e de África, da Ásia e dos EUA, da Europa e da Rússia, porque olho para cada um sem preconceitos, sabemdo que sou diferente, mas tenho a minha individualidade, o meu modo de pensar, a minha tolerância, ou intolerância, mas nunca um perconceito, muito menos quando se confunde portuense com portistas. Eu sou portuense e portista, não sou um criminoso ou um mafioso, sou um cidadão digno, pelo menos espero que sim, respeito os outros e as suas opiniões e de certeza, meu amigo, que não me enquadro na padronização que fizeste em relação ao Porto. Aprende a respirar a cidade, aprende a viver dentro dela, se a violentares ela também te rejeita, se a rejeitares ela violentar-te-á.

Olha e vê à tua volta, não ponhas carimbos, todos nós temos as nossas falhas e as nossas fraquezas, mas é admitindo-as que faz de nós fortes. Os portuenses não querem ser mais fortes do que os outros apenas querem que sejam olhados como pessoas, que são, em pé de igualdade com os outros, nomeadamente os do poder político.

Nunca reconhecemos a ninguém privilégios (opção e carácter dos portuenses desde a Idade Média). Somos como somos. Não queremos que gostem de nós, mas não gostamos de ser enxovalhados.

São as atitudes de pretensa superioridade que fazem de nós bairristas, sincerammente, como portuense sinto-me insultado com o teu comentário, como amigo desculpo e não será por isso que deixarei de ser teu amigo, porque detesto a normalização e a padronização e porque aceito o direito a opiniões diferentes, mas ao insultares o Porto, não me insultas a mim, insultas a minha alma, e eu até sou ateu, mas há coisas que eu não te posso explicar porque nunca as irias entender, porque olhas para o Porto, olhas para mim, com um ar preconceituoso. Eu sou o Porto, não sou um ser amorfo, antes de português sou um cidadão do Porto, porque para além dos limites da cidade eu sou um cidadão do mundo,não sou um patriota, porque o patriotismo está em decadência, sou um portuense, quer tu gostes ou não. O meu Porto e o resto do Mundo são iguais,não há melhor nem pior, apenas diferente e todos temos direito à diferença, goste-se ou não.

Anónimo disse...

Carago, inda as tripas te vão saltar cá pra fora antes de as meteres lá dentro... relaxa e goza...
Biba a Beira (Alta) e seus Beirões (tirando um ou outro, principalmente o outro)
Abraço
Neves, AJ

Anónimo disse...

PORTO, 2008.01.04

Meu caro SpiritWolf.

Bom dia.

Estava a ler a tua resposta com interesse, mas tive que parar, porque dizes que te sentiste insultado como portuense, por causa daquilo que escrevi e que curiosamente mantenho tudo.

Eu sou uma pessoa de formação superior, sou português, tenho o direito à minha opinião e na minha terra o não é democrático. Nunca te seria deselegante a esse ponto de te insultar.

Assim, estás a inibir-me e a não permitir que diga aquilo que sinto.

Mas mesmo assim arrisco: penso que a minha postura dá um contributo de maior honradez `a cidade do que a tua. Mas estou limitado e desiludido porque estava interessado em discutir o tema.

O teu texto é um texto que me interessava colocar no meu blogue para discussão pública. Mas assim...

Mas não vou desistir.

Tenho dúvidas sobre a postura democrática da cidade. A democracia legitima-me isso.

Na minha leitura, o carácter de uma cidade não se vê pela sua história, como dizes, mas sim pela forma como a cidade se identifica com essa história. E aqui há deficit da cidade .. parece-me.

Lutarei por uma cidade melhor porque o Porto é agora a minha cidade.

Porque não quero viver numa cidade amorfa e recuso-me a viver numa cidade que a tudo diz sim, onde as pessoas não estejam para se chatear como tu me disseste uma vez.

Este não é o Porto que eu quero.

Foi o mínimo que pude dizer. E prometo-te não voltar ao assunto.

E garanto-te que nunca esteve no meu horizonte insultar-te... nada disso.

Mas um dia, eu pago o almoço, mas tens de me explicar essa do insulto.

Até lá, aí vai um abraço de um amigo, autêntico, podes ter a certeza disso.

JBS

IRN disse...

Na minha Beira diríamos: amizades do caralho.

Guilherme Monteiro disse...

Na noite da passagem de ano, enquanto Lisboa se encantava com as gentes do Porto (Pedro Abrunhosa no Terreiro do Paço, Trabalhadores do Comércio no Pavilhão Atlântico, Luís Portugal a recordar Jáfu'mega no Pavilhão Atlântico, Clã no Pavilhão Atlântico), o presidente da Câmara do Porto (que mais parece mouro!) oferecia à cidade a "pimbalhada" do Marco Paulo. A cidade deve ter respondido em peso, claro! Para além do próprio Rui Rio, calculo que estivesse lá o pindérico Lá Féria, o Emplastro, e lá do alto, a árvore de Natal mais alta do mundo reclamava: "Daqui do alto não vejo nada, caralho! Ai, caralho não, caralho".
Os tontos chamam-lhe torpe...

Mário Monteiro disse...

João o insulto é uma figura de estilo, se queres um termo mais doce então poderei dizer que fiquei ofendido, não contigo, mas porque sei que há muita gente que afirma as mesmas coisas e, como portuense tenho também direito à minha opinião. Também sou uma pessoa de formação superior, seja lá o que isso for, mas não gosto de generalizações e, já agora, quanto a amorfismo concordo contigo, mas é um mal nacional, não simplesmente das gentes do Porto.
Ninguém é melhor ou pior, apenas diferente e todos temos direito a essa diferença, goste-se ou não.

Não estou zangado contigo, de maneira nenhuma, nem me sinto insultado por ti, até bem pelo contrário, como sabes tenho grande consideração por ti e quanto ao jantar ou almoço é só combinarmos o dia. Publica o artigo se assim o entenderes, talvez desperte algumas consciências amorfas e alguns bairrismos adormecidos, porque isso do bairrismo, que eu até não considero uma coisa negativa, não um privilégio dos portuenses,mas de todas as terras, só é negativo quando uns olham para os outros com um ar de superioridade, porque de bairrismo se transforma em racismo ou xenofobia.

Grande abraço,

Mário

IRN disse...

Quer então dizer que vai acabar em pizza? (por aqui é sinónimo de pazes, mas infelizmente expressão muita vez ligada ao "acabar em águas de bacalhau" perante as falcatruas dos políticos)
Bom, nem é má ideia... que seja então pizza, pelo menos não há talheres... ahahah
Não sei se estou a ser faccioso visto que o Spirit é meu amigo, mas cada um de nós tem que ser um pouco bairrista, afinal a terra é um pouco mãe, tendo como é lógico o discernimento necessário para não se tornar presunçoso e chauvinista... (alguns dragões até têm essa mania eheheh)...
a propósito, mesmo com todos os acontecimentos últimos e os mais idos venha daí o primeiro que diga mal da minha Santa Comba... "eles" são eles, o Povo Santacombadense e a própria terra é outra. Nada de generalizar. Por fim... O outro camarada que me desculpe, mas como dizem que os Beirões são directos e um pouco pro grosso tenho que lhe dizer, porque me roeu as entranhas, que essa da formação superior foi cá uma bosta de uma tirada a merecer um pedido de desculpas a todos os outros que não a têm, pelo menos no papel...

Guilherme Monteiro disse...

Para completar comentário anterior:

Trabalhadores do Comércio no Pavilhão Atlântico

Luís Portugal no Pavilhão Atlântico

Clã no Pavilhão Atlântico

Anónimo disse...

Ena, pessoal bravo !!!

Adorei esta suculenta discussão, adorei mesmo.

Olhe,meu caro amigo, Mário, necessário se torna, bisar posts do gabarito deste para nos sacudir do abulismo das ideias.

Como sabe, eu cá sou das Ilhas de Bruma (atrevam-se a dizer mal,eheheh) mas, tal como o Poeta, sonho com o Quinto Império, sonho viver numa dimensão onde o Amor, entre os homens, alargue a vista para além dos limites do Horizonte!
Grande abraço,

eulalia (sem formação académica superior)
P.S. Declarar ter ou não formação superior é, simplesmente, declarar um facto e, perante factos ,não há argumentos.

NB:Estou com dificuldade em mandar o comentário, por certo vou "falar" umas quantas vezes...

IRN disse...

há argumentos sim... (tudo o resto ok)

Mário Monteiro disse...

Obrigado Maya, vai mandando uns palpites daí das ilhas da bruma.

Essa história da formação académica, ou formação superior, levavamo-nos a outra grande discussão, sem qualquer dúvida.

Para mim as pessoas valem por si e não pela formação académica, portanto, tal como diz o meu amigo Voz, há argumentos e muitos.

Anónimo disse...

Olhe, meu caro Mário, permita-me dicordar quando diz:
"tal como diz o meu amigo Voz"
deveria ter dito:
"tal como diz o NOSSO amigo Voz"

abraço aos dois,
eulalia

Mário Monteiro disse...

Mea culpa. Fica a correcção feita. Um beijo prá Maya e um abraço pró Voz.

Anónimo disse...

Porto, 2008.01.11

Boa tarde.

Pensava que a discussão tinha ficado nos 9 comentários mas já subiu para 14. Há substância.

Passei aqui por acaso. Verifiquei que pegaram nessa da "formação superior". Parece que fui eu que disse. Peço licença para retirar a frase. Não preciso dela para nada.

Continuo a não entender a cidade. Por isso gostava de discutir o assunto. E pode ser aqui.

Mas não tentem sujar o espaço do meu amigo spiritwolf. Como já o fizeram. Não e bonito e e eu aí não colaboro.

Uma dica.

O PORTO queixa-se de Lisboa, oralmente e escrevendo nos jornais desde pelo menos 1865. Hoje ainda continuam a queixar-se.

Mas porquê. Será que não têem razão ou os métodos utilizados não são eficientes?

Deixo os meus cumprimentos a todos. mas não são obrigados a aceitar.

FORÇA.

jbs

Anónimo disse...

Mais uma porcalhada, pá. Agora mandas a indirecta de que ando a sujar... tão puritano me saíste.
Concluo dizendo que para mim é fim de papo como soi dizer-se por aqui.
Passa bem.

Anónimo disse...

JBS,
Boa tarde,

Rivalidades existem desde tempos imemoriais entre pessoas, cidades, países e impérios e, contando que não descambem em hostilidades, podem ser saudáveis e até enriquecedoras.
o assunto tem "substância", sim senhor, se tratado com civismo e urbanidade.
Sou uma "corisca" de gema e tenho amigos "alfacinhas" e "tripeiros" que muito prezo, sendo a nossa amizade enriquecida, precisamente, pela diferença,melhor dizendo pelo respeito à diferença, porque as há, felizmente!
Não ignoro que há pretensas superioridades de alguns mas não vamos afinar pelo mesmo diapasão do "na minha terra é que é bom".
O amor à Terra é bom e é bonito mas, eloquente mesmo, é o amor e o respeito pelas pessoas.
Quanto à sua afirmação, passo a citar: "sujar o espaço do meu amigo spiritwolf" é, no mínimo, deplorável, lamentável, etc,... mas momentos infelizes, quem os não tem?
Abraço os meus amigos Mário, Gui e Voz e para si os meus cumprimentos,
eulalia
P.S. Mas diga-me, o que não entende na cidade ou nos habitantes do Porto?

Matreco disse...

Matraquilho Irrequieto, eterno apaixonado pela cidade que me viu entrar nas quatro linhas - Lisboa, estou há um ano e meio no Porto e só não percebo por que razão chamam fino a algo que em excesso nos põe grossos. Não quero dizer com isto que sou um "convertido", ao ponto de idolatrar as francesinhas, os prédios devolutos ou a cor escura da pedra que impregna o Porto. Porém, entendo que ao chegar a um novo lugar, será melhor descentrarmo-nos daquilo que estamos habituados a ver e com isto minimizar o constrangimento de qualquer incompreensão, abolir os preconceitos, os complexos, os apegos parolos e deixar de dar tanta importância aquilo que nos divide. Atenção: O mesmo digo de quem nos recebe num novo lugar. No Porto sinto-me bem e rapidamente percebi a razão de tal facto - o ter começado por gostar de quem lá mora (estendo aos arredores). Tive sorte. Fui bem recebido…
Convido qualquer Portuense que não compreenda Lisboa a ir dar uma volta por lá. A compreensão e a lucidez não serão maiores depois de bebermos, como dizem na minha terra - umas valentes “imperiais” no Bairro Alto e brindarmos a esta luta fratricida. Muita Paz.

Abraço ao Spiritwolf