quarta-feira, 11 de março de 2009

Viva La Vita


O Oásis da Amizade, por Jorge Seabra (7 de Julho de 2008)

Fez ontem dois anos em que tive um brutal acidente que me colocou entre a vida e a morte. Desde o ano passado que, no dia 10 de Março, me reúno com um grupo de amigos no local para fazer um brinde à vida.

A Lua estava praticamente cheia, o que nos possibilitou fazer uns uivos e estreitar ainda mais a amizade que nos une.

Naquela curva fatídica, vencido pelo cansaço de vários dias sem dormir, os meus olhos fecharam-se, inconscientemente desisti. A curva apertava, apertava, apertava e a minha mente voava, voava, voava. Partia para outro mundo sem mesmo saber que estava a partir. Não tinha feito qualquer escolha.

Embalado no meu sarcófago andante fui deslizando para a faixa contrária, sem me aperceber de nada. De repente acordo com um estrondo e um clarão. Tinha acabado de ter um choque frontal com o carro que vinha em sentido contrário. O carro imobiliza-se a 6,6Km do Porto. A partir daqui fico no limbo, onde permaneci durante duas a três semanas.

Felizmente nada de grave aconteceu aos passageiros do carro que vinha em sentido contrário. Seria para mim insustentável viver se algo de grave lhes tivesse acontecido, sabendo que eu tinha sido o causador dessa desgraça, mesmo que involuntariamente.

Silêncio!... O tempo parou.

Deixemos passar a vida. Nada de sobrenatural aconteceu, apenas uma série de acasos e a vontade de fintar a morte. Não aceitar a derrota, lutar para abrir novos caminhos. Aprender com os erros.

Não travei esta batalha sozinho. Foi fundamental a presença e amor dos filhos e amigos. Sem eles muito provavelmente não teria conseguido travar esta batalha decisiva com êxito.

Às vezes, um azar pode transformar-se num maravilhoso golpe de sorte. Mesmo que de forma violenta e escusada, este azar permitiu-me clarificar muita coisa. Permitiu-me saber, sem equívocos, quem gostava ou não de mim, quem era ou não meu amigo. Não me tinha enganado muito. Dois ou três tinham por mim apenas uma amizade conjuntural, nada mais do que isso e, como dizia Luís de Camões: mudam-se os tempos, mudam-se as vontades.

Com os filhos e com os amigos autênticos os laços ficaram ainda mais fortes, indestrutíveis. Recuperei amizades que estavam um pouco adormecidas e também fiz novas amizades. Em relação aos outros, poucos, nada me move contra eles, não guardo rancores, apenas alguma mágoa, mas também mais porque tenho consciência que nem sempre soube estar atento, ou não soube demonstrar essa amizade. Se algum dia precisarem de mim, sabem que poderão contar comigo de forma totalmente desinteressada e verdadeira, porque a minha amizade em relação a eles não era conjuntural, era autêntica, mesmo que não isenta de erros da minha parte. Sou um simples ser humano.

Não estou a falar neste assunto por auto-comiseração, isso é palavra que não entra no meu vocabulário, apenas gostava de saber fazer um hino ao amor, à amizade e à autenticidade, os valores fundamentais que, juntamente com o sonho, fazem avançar o mundo, faço-o de um modo desajeitado, mas é o meu modo.

Há coisas que nem sempre se consegue traduzir por palavras.

Ei-los que chegam, sedentos presumo. Chegou a hora de celebrar a vida e a amizade.

Nem todos puderam estar presentes, mas aqueles que não estiveram fisicamente não deixaram de estar connosco.

Está na hora de abrir o espumante. Esquecer o passado e viver o presente. Está na hora de partilhar o momento.

Copos cheios de vida borbulhante, laços estreitados, pois que viva a vida.

Ideias são trocadas, brinca-se, contam-se anedotas. A vida são dois dias e o primeiro já passou. Reforçam-se laços. Todos estamos unidos num mesmo acto de amor desinteressado: a amizade pela amizade.

Passou o breve momento. Intenso. Há que romper com o passado, viver o momento e perspectivar o futuro em bases cada vez mais sólidas.

Para o ano cá estaremos de novo. O meu desejo é simples: viver um dia de cada vez e, para o ano, quando se realizar de novo este encontro, ter perdido os quilitos que agora tenho a mais.

No fim desta jornada veio-me à memória um filme fabuloso: "Favores em Cadeia".

VIVA A VIDA!

1 comentário:

Anónimo disse...

Embora longe, juntei-me ao vosso brinde (mas com vinho verde, também tem bolhinhas....)
Um beijo
Ana